Duas biografias

Dois dos mais importantes personagens da história do Paraná acabam de passar para o papel suas memórias de vida. Paulo Pimentel contou o destino do menino de Avaré (SP) que veio a se tornar governador do Paraná. Karlos Rischbieter contou a trajetória do filho de imigrantes alemães de Blumenau (SC) que chegou a Ministro da Fazenda do Brasil. São duas boas notícias para a nossa memória histórica. Os dois livros estão no prelo, para serem lançados até o final do ano.

Porecatu, 1960: Paulo Cruz Pimentel iniciou suas memórias contando de um encontro, num sábado, que lhe apontou outro rumo na vida.

Blumenau, 1942: Karlos Heinz Rischbieter começou a autobiografia revelando um pesadelo familiar durante a ditadura Vargas.

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Naquele sábado de 1960, Ney Braga fazia um comício em Porecatu, norte do Estado. Como todas as hospedarias da cidade estavam lotadas, o jovem advogado Paulo Pimentel foi encarregado de hospedar o candidato. Paulo subiu ao palanque, apresentou-se a Ney Braga e se colocou à disposição para conduzi-lo à fazenda dos proprietários da Usina Central de Porecatu.

Era tarde da noite quando o povo se dispersou. Ney e Paulo foram para a fazenda, que dispunha de estrutura hoteleira para receber convidados importantes. Depois do jantar, os dois ficaram conversando até duas ou três horas da manhã.

Ney Braga acordou cedo e, antes de se despedir, perguntou a Paulo Pimentel, então diretor da Usina Central, se a empresa poderia lhe emprestar, por uma semana, um carro com motorista. O anfitrião providenciou o melhor carro e um motorista da maior confiança.

Conforme o combinado, uma semana depois o motorista retornou a Porecatu. Assim que chegou, contou a Pimentel a frase que ouvira do futuro governador: ?Vou levar esse jovem para trabalhar no meu governo!?.

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Na Segunda Guerra Mundial, brasileiros descendentes de alemães, italianos e japoneses foram perseguidos pelos agentes do Estado Novo, da ditadura de Getúlio Vargas. Eram presos de forma ilegal e arbitrária. Em alguns casos, torturados e mortos. Todo abuso de poder era permitido, para extirpar de corações e mentes o uso de línguas estrangeiras, forma de nacionalizar à força os integrantes das colônias de imigrantes. O silêncio lingüístico era imposto e a propaganda oficial disseminava o ódio racial.

Numa certa manhã de 1942, a família Rischbieter acordou com a notícia de que o pai estava preso. Karlos Heinz Rischbieter tinha 15 anos incompletos. Agarrado ao braço da mãe, o menino Karlos saiu então, de repartição em repartição, em busca do paradeiro do pai.

Em Blumenau foi em vão, aos mais curiosos serviam óleo de rícino na prisão. Karlos Heinz Rischbieter só foi encontrar o pai em Curitiba, atrás das grades.

Seqüestrado pelos esbirros de Vargas, a família Rischbieter foi obrigada a pagar um alto preço pelo resgate do patriarca.

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Em 1960, Paulo Pimentel ainda não conhecia Curitiba. Veio a conhecer meses depois. Convocado às pressas para uma audiência com Ney Braga, precisou comprar um terno novo na capital do Estado onde ainda seria governador, com apenas 36 anos de idade.

Em 1942, Karlos Heinz Rischbieter veio a Curitiba para encontrar o pai na cadeia de Vargas. Voltou muitos anos depois, para se formar engenheiro e encontrar uma esposa, Fanchette Garfunkel.

Junho de 2007: Pimentel e Rischbieter são dois vencedores. Se a história é escrita pelos vencedores, os dois estão com a palavra.