Abobrinhas da temporada

Na sua “Carta da Europa” deste domingo, no Almanaque, o jornalista Silio Boccanera conta que o verão europeu vai se encerrando, junto com o festival de tolices que costuma ocupar o noticiário neste período em que os jornais e jornalistas, para encher espaços, saem à cata de abobrinhas. Uma especialidade desta coluna, que também não recusa um bom prato de abobrinha ensopada, bem temperada.

Das abobrinhas deste verão do hemisfério norte, a melhor do gênero surgiu em Nova York e já foi transplantada para o resto do mundo. Chama-se “flash mob”, ou “mobilização relâmpago”. A receita desta abobrinha é simples: são performances organizadas por e-mail, mobilizando centenas, milhares de internautas, que se reúnem em datas, locais e horários pré-estabelecidos para uma manifestação coletiva relâmpago.

Aqui em Curitiba, a primeira mobilização-relâmpago aconteceu no início da semana. Muito tímida, reuniu não mais de vinte gatos pingados, infelizmente. A pauta da mobilização, cá entre nós, foi também bem pouco criativa, muito comportada: os vinte se encontraram na Boca Maldita, olhando pra cima. Segundos depois, todos iniciaram um contagem regressiva, olharam simultaneamente para o chão e se dispersaram rapidamente, como se nada tivesse acontecido. Quer dizer, os “neoflash mobbers” pegaram o espírito da abóbora, mas faltou tempero. Especialmente pimenta, até veneno.

Bem ao contrário da primeira mobilização-relâmpago acontecida neste início de verão nova-iorquino. Uma loja de brinquedos infantis expunha um monstrinho horroroso, cuja traquitana acionava uma gritaria infernal, assustando qualquer um que cruzasse sua área de alcance eletrônico. Com princípio, meio e fim, a mobilização-relâmpago foi perfeita. Na data e horário combinados por e-mail, como num passe de mágica, milhares de pessoas se amontoaram dentro da loja de brinquedos e, quando o monstrinho deu o ar de sua nenhuma graça, todos se jogaram ao chão, gritando e esperneando, como se aterrorizados. Quando a segurança da loja notou o tumulto, a massa de “flash mobbers” já tinha se dispersado pelas ruas de Manhattan.

Se aqui em Curitiba o nosso tímido “flash mob” reuniu pouco mais que a torcida do Paraná Clube, não vamos nos dispersar. Vários grupos estão se organizando para promover uma mobilização de gente grande. Mas, pra tanto, não basta um bando de “flash mobbers” reunidos na Boca Maldita, posando para fotógrafos. É preciso criar, ousar, imaginar. Caprichar no tempero da abobrinha.

Imaginar, por exemplo, até uma mobilização carinhosa. Assim, de repente, centenas de pessoas adentrando a uma reunião da Academia Paranaense de Letras. Como, de hábito, as reuniões da nossa academia dão pouquíssimo quórum, seria de lavar a alma assistir a uma multidão de “flash mobbers” aplaudindo os bravos acadêmicos. Entrar, aplaudir e sair. Vapt-vupt.

Ou então uma mobilização gigante para assistir a alguns minutos de uma partida de futebol entre o Combate Barreirinha e o Iguaçu, em Santa Felicidade. Entrar, xingar o juiz e ligeirinho tirar o time de campo. Um recorde de público para um dos maiores clássicos da suburbana. Ainda no futebol, podia ser planejada pelo e-mail uma mobilização para assistir também a uma das próximas partidas do Atlético Paranaense. Porque, pelo rebolado do time, mais de mil pessoas na Arena, nos próximos jogos, será um impacto dos grandes.

Também de impacto seria fazer acontecer um “flash mob” na Assembléia Legislativa. Não, nem pensar em qualquer tumulto. Apenas mobilizar uma multidão para entrar naquela casa do povo e, a multidão numa só voz, gritar em delírio:

– Lindinhos! Lindinhos! Lindinhos!

Naquele poço de vaidades, nossos nobres deputados vão adorar.

Até quarta-feira, com uma outra sugestão: milhares de “flash mobbers” nas bancas de jornais, suplicando: cadê a coluna do Dante?