Homens invisíveis

Ninguém se dá conta e, na maioria dos casos nem percebe, mas eles estão ali ou melhor dizendo: lá, já que são tratados como se estivessem tão longe. Os tradutores ainda são tratados como uma subclasse no mercado editorial brasileiro, chegando ao ponto de ter seu trabalho que muitas vezes dura anos surrupiado por uma segunda editora que não lhes paga um tostão.

A briga é de cachorro grande. De um lado, gente como Paulo Henriques Britto, Sérgio Flaksman, Denise Bottmann e Fernando Koproski; do outro, grandes grupos editoriais que muitas vezes nem são brasileiros. Quem perde com isso? O leitor que ganha uma tradução relapsa por conta de um prazo inebriante. Mas você nem fica sabendo disso, porque os tradutores são como homens invisíveis: estão ali, são fundamentais, porém, ninguém.

Nem todo mundo atenta aos detalhes de uma tradução feita às pressas, detalhes que são deixados de lado e que podem transformar um grande livro em uma obra medíocre. A tradução, que é também uma leitura profunda e aprofundada, coloca em xeque a questão da possibilidade e da versatilidade de uma língua. Um exemplo disso é a recusa de Britto em transpor para português um dos poemas de Elizabeth Bishop por acreditar que não ficaria bem em nosso idioma.

Esses seres invisíveis, que vagam pelas páginas, são tão importantes quanto os autores há quem diga que traduzir é “reescrever” portanto, cada vez que você pegar um livro na mão folheie até encontrar o tradutor. Vale a pena.