AVC: o inimigo oculto

A cada doze segundos morre uma pessoa vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC) no mundo. Popularmente conhecido por derrame, a doença ocasionou 97 mil mortes no Brasil somente em 2008.

Essas informações foram divulgadas durante o workshop de imprensa Uma Nova Era na Prevenção do AVC, que aconteceu em São Paulo nessa semana. O evento reuniu jornalistas de vários estados brasileiros que puderam saber como esta doença silenciosa tem preocupado as lideranças na área de saúde do país.

A doença se manifesta com mais incidência em homens e mulheres após os 55 anos de idade, que ocasiona paralisia parcial do corpo, distúrbios intelectuais, comunicacionais e também, em casos mais graves, a eliminação do nível da consciência, o que pode provocar a morte da vítima. Os fatores de risco que estatisticamente aumentam as probabilidades de contrair a doença são a pressão alta, diabetes, colesterol alto, obesidade, sedentarismo e o consumo excessivo de álcool e cigarros. O tabagismo eleva em 600% a chance de problemas de origem cardíaca. Os dados são preocupantes em função do aumento do número de idosos no país que em 2050 poderá chegar a 16 milhões de pessoas. Um em cada seis derrames são causados pela arritmia cardíaca, ou seja, o coração bate de maneira irregular e descompassado, o que ocasiona a formação de coágulos dentro do coração que quando chegam ao cérebro entopem os vasos sanguíneos e conseqüentemente resultam no AVC isquêmico. Esta arritmia cardíaca, conhecida como fibrilação atrial, é a mais comum e aumenta em cinco vezes as chances de se contrair a doença que vitima três milhões de pessoas em todo o planeta. “O AVC não mata a pessoa, mata a família”, explica o Dr. Alexandre Pieri, neurologista vascular (foto acima). Segundo ele os familiares preferiam que o paciente tivesse morrido ao invés de vegetar em uma cama de hospital o que ocasiona instabilidade emocional e financeira que afeta a todos.

AVC: risco cumulativo

Quem já sofreu um AVC, mesmo que as seqüelas (funções motoras), tenham sido mínimas, faz se necessário realizar uma terapêutica preventiva para evitar um novo ataque mais agressivo. “A taxa de recorrência é muito grande para se ter um novo AVC”, alerta o Dr. Dalmo Moreira, chefe da seção médica de eletrofisiologia e arritmia cardíaca do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de São Paulo (foto acima).

Para se prevenir contra um Acidente Vascular Cerebral é preciso mudar hábitos e comportamentos. Evitar a ingestão de alimentos gordurosos e os industriais com grande quantidade de sódio, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e fazer exercícios regularmente, mas atenção, os médicos alertam; exercícios em excesso, quando interrompidos também podem ocasionar a fibrilação atrial. “O grande segredo é o equilíbrio. Não vamos pensar em sedentarismo, que comprovadamente é um fator de risco”, explica Dr. Alexandre Pieri.

AVC: medicamento inovador

A médica cardiologista, Drª Luciana Giangrande (foto), afirma que visitar o médico regularmente é fundamental para avaliar o estado de saúde do paciente, principalmente na melhor idade considerando que a doença é assintomática. A automedicação para afinar o sangue, tais como remédios para dor, os analgésicos ou antiinflamatórios que contém a substância ativa ácido acetilsalicílico (AAS/Aspirina) não são recomendados devido às suas reações diversas no organismo que resultam em doenças no sistema digestivo como hemorragias e a gastrite. Os fármacos que afinam o sangue são indicados apenas para alguns casos de pacientes hipertensos, mas a sua eficácia é de 19% contra os 70% de outros mais adequados. O medicamento mais inovador que acaba de entrar no mercado e previne o AVC, principalmente para as pessoas que sofrem com a fibrilação a,trial, é o Pradaxa (dabigatrana), um anticoagulante que previne três de cada quatro derrames ocasionados pela arritmia cardíaca e reduz em 75% o risco de AVC em relação ao não tratamento.

O Pradaxa já foi testado em mais de 18 mil pacientes em todo o mundo com resultados excelentes e a partir de estudos clínicos recebeu aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão que regulamenta o controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços relacionados à saúde.

Diferente dos antigos remédios que combatem a formação de coágulos no organismo, o novo medicamento de administração oral, produzido pela companhia farmacêutica Boehringer Ingelheim, faz parte da nova geração de anticoagulantes que não necessita de exames de sangue freqüentes para regular a dose de remédio e não possui restrições alimentares o que traz mais conforto ao paciente da melhor idade. “O anticoagulante age no organismo em menos de duas horas, ou seja, tem uma rápida absorção”, explica a Drª Luciana Giangrande.

É importante salientar que nenhum medicamento deve ser aplicado ou ingerido sem a devida orientação médica. O tratamento precoce, a prática de exercícios e uma alimentação saudável irão determinar a qualidade de vida na melhor idade.