Anjos do volante

A compra de um carro é uma das primeiras grandes realizações materiais na vida das pessoas. Pouco importa se pede alguns reparos, se o motor é básico, ou, em contraposição, se o IPVA corresponde a alguns salários mínimos. O fato é que, com um volante na mão, muitos parecem se transformar.

Até mesmo pessoas equilibradas se transformam em ?motoristas mutantes?, pondo suas ?garras de fora?, quando são ?fechados? no trânsito ou perdem uma vaga de estacionamento. Quem antes parecia tão centrado, acaba muitas vezes externando reações contrárias ao seu comportamento natural.

Há também aqueles que fazem de seus veículos uma arma fatal, trafegando sempre em alta velocidade, expondo pessoas a riscos desnecessários e, inclusive, atentando contra a moral de outros motoristas e pedestres através de palavras de baixo calão. Infringem, assim, o primeiro mandamento dos motoristas: não matar!

O acúmulo de compromissos ou a falta de prudência faz muitos condutores disputarem cada centímetro do asfalto, deixando a educação acontecer numa outra ocasião. Na briga contra o relógio, colocam em risco a vida de todos em seu caminho, inclusive as deles mesmos, esquecendo-se de que estradas e ruas devem ser reflexo de uma sociedade que vive em harmonia.

A direção defensiva é a solução de combate a esse tipo de risco. Em última instância, pode reduzir os prejuízos. Cortesia e prudência ajudam a lidar com os imprevistos, embora muitos motoristas sintam-se tão ?blindados? por trás das escuras películas que revestem os vidros do carro, que acabam ficando indiferentes ao que acontece na rua, sendo incapazes de parar para prestar socorro a uma vítima.

Em tudo, devemos buscar lapidar nossas virtudes. Ainda que existam pessoas ávidas por uma oportunidade de se impor sobre as demais. Ainda que existam sempre aqueles que, com o objetivo de transformar tudo em pequenas vitórias, não percebem que o automóvel passa a ser expressão de poder e dominação. Certamente, uma ocasião para pecar.

Dos grandes aos pequenos acidentes de trânsito, é muito comum presenciar discussões. Prestando bastante atenção, quase nunca são relevantes. Se cada motorista habilitado cultivar o desejo de aplicar nas ruas e estradas o senso de proteção e zelo para com os demais, respeitando as vidas que vêm no sentido oposto, independentemente de ser um carro de passeio ou um caminhão, certamente teremos muito que comemorar amanhã, Dia do Motorista. Busquemos cultivar e viver as nossas responsabilidades como intercessores motorizados.

José Eduardo Moura é redator do Portal Canção Nova (www.cancaonova.com/:).