Sinônimo de vergonha?

A política que se pratica no Planalto Central tem surpreendido a todos os brasileiros e, especialmente, àqueles que como eu vêem na sua prática uma forma de auxiliar a sociedade a avançar e obter novas conquistas, especialmente no campo social.

Nem bem estávamos nos recuperando dos escândalos do ?mensalão? e do ?mensalinho?, fomos surpreendidos agora pelo processo que levou Aldo Rebelo (PCdoB-SP) à presidência da Câmara Federal. Uma grande manobra patrocinada pela liberação, em troca de apoio ao candidato do governo, de quase R$ 1 bilhão em emendas para deputados.

Numa aliança que envolveu dinheiro para emendas eleitoreiras, mais o compromisso em transformar a denúncia contra 16 deputados envolvidos com o ?mensalão? em pizza marca, infelizmente, mais uma página triste e negra da política brasileira.

Quem acompanhou a votação para a escolha da presidência pela TV Câmara não pôde deixar de observar que o anúncio do resultado foi acompanhado, na primeira fila, com imensos sorrisos, pelos deputados que foram denunciados ao Conselho de Ética para cassação.

Estavam lá os petistas José Dirceu, Dr. Luizinho, João Paulo Cunha e mais meia dúzia de denunciados por fazer parte do esquema do publicitário Marcos Valério, que desviou dinheiro público para comprar votos de deputados que acabam por barrar um salário mínimo digno aos brasileiros ou para aprovar uma falsa reforma da previdência.

Mas, eufórico mesmo estava o comandante do ?mensalão?, Zé Dirceu, que acabara de eleger sua principal testemunha de defesa no processo de cassação para a presidência da Câmara, dotado de plenos poderes para transformar o caso numa grande pizza. Por um voto a menos do número de deputados denunciados, o governo venceu a eleição. Com absoluta certeza, como declarou alguns dias José Janene, com o apoio dos parlamentares sob suspeita que, segundo o paranaense, agora terão plenas condições de provar sua inocência.

Rebelo também foi o candidato de Severino Cavalcanti (PP-PE), que não escondeu sua preferência: ?Eu não quero dizer que fui decisivo, mas mandei votar nele. Fiz um trabalho insano, telefonando para todos os deputados. Tenho certeza de que a Câmara continuará sendo uma casa para todos os deputados?, disse após a eleição.

E foi com o dinheiro público, mais uma vez, de emendas, que o governo venceu a disputa contra a oposição e elegeu o ex-ministro para presidir o Legislativo. A mesma prática que tanto o PT condenou no passado, pôs em prática agora, não bastasse estar sua imagem de partido ético completamente destruída perante a nação.

Emendas são um direito efetivo dos municípios, mas não precisam de intermediários. Que deveriam ser fruto de audiências públicas, promovidas por associações de moradores ou qualquer outra entidade que represente os interesses da comunidade.

O que nos deixa ainda mais perplexos é o grau de envolvimento de políticos paranaenses no processo que desmoraliza a política brasileira. O principal operador do ?mensalão? era um deputado federal de Londrina. O secretário particular do presidente, Gilberto Carvalho, que está envolvido com denúncias acerca da morte do prefeito Celso Daniel, também é de nosso Estado. Foi acusado pelos irmãos do prefeito morto de sair com uma sacola com R$ 1,2 milhão para entregar para Zé Dirceu. Dinheiro do transporte coletivo.

O que mais poderemos esperar da política do Planalto agora?

A absolvição de todos os denunciados, conforme se especula? O perdão ao publicitário mineiro e a Delúbio Soares? O fim das CPIs sem apontar culpados? A continuidade do processo promíscuo de se desviar dinheiro público em benefício de uma prática política de uma república das bananas?

Tudo isso moldado por um cenário de um plebiscito que parece ter sido criado apenas para desviar a atenção do País, de resultados completamente ineficazes, seja qual for o seu resultado.

Esperamos que a maioria dessas questões seja respondida de forma negativa. O País e seu povo não merecem mais esse tipo de política. Vivemos num novo século, onde política não pode mais ser uma palavra suja, corrompida, sinônimo de malandragem. O eleitor saberá, com certeza, dar a resposta nas eleições do ano que vem a tantos absurdos que, por ironia, quase sempre são praticados em seu nome.

Precisamos realmente é que o povo demonstre sua indignação com toda essa realidade a que estamos sujeitos, seja indo às ruas, com movimento de atos cívicos, mandando e-mails, enfim, toda forma de pressão, para evitar que esse absurdo se transforme em pizza.

Reinhold Stephanes Junior é vereador de Curitiba.