Possesso

Certa vez Nelson Rodrigues escreveu que a bola é muito mais inteligente do que se pensa por saber distinguir, perfeitamente, o craque e o perna-de-pau. Lembrei do grande Nelson vendo esse atacante Wallyson, que ainda não passa de um adolescente, jogar pelo Atlético.

É verdade que os tempos eram outros. Existiam craques que se moldavam às exigências do conceito; hoje, por conta da regra do mercado de empresários, craque pode ser qualquer um.

Mas Wallyson não é qualquer um, dá pra ver. São animadores os atributos que revela a cada jogo: moderno sob o aspecto tático, não permite que a sua técnica absorva a obrigação de renunciar determinados espaços em campo, para combater. Se preciso, torna-se um comum para combater.

A bola procurou e chegou em Wallyson com insistência nos últimos jogos.

No exercício das suas virtudes naturais, é que o menino cativa, encanta e empolga. É daquele que como poucos, sabe que é possível pensar e jogar ao mesmo tempo. Aliás, o menino só joga bem, exatamente porque pensa e executa como se tudo fosse natural. Não é de graça, que os potiguares o chamam de “Possesso”, porque lembraria Amarildo, ídolo do Botafogo e substituto de Pelé no bicampeonato mundial no Chile, em 1962.

Irão pensar que é cedo demais para tamanha exaltação.

Mas Wallyson, posso estar enganado, não é daqueles que pode deixar alguém com o pincel na mão.

Fracasso

E o que dizer do Paraná?

Já não pergunto nem do seu presente, porque esse já foi perdido. Foram-se quatro meses, trinta jogadores e dois técnicos: a Série B chega, e não há time; ou se terá time, será improvisado. Só que o futebol mudou, e não permite mais que se alcance um objetivo com improviso e especulação de mercado.

Se o presente já foi perdido, o que se esperar do futuro do clube? O Paraná precisa prestar contas a si próprio, porque só assim irá concluir o que poderá fazer na vida. Da maneira como está continuará se enganando, até que a verdade definitiva lhe corroa até os ossos.

E não pensem que o problema tricolor é administrativo. Ao contrário, o presidente Aurival saneou a instituição. Não existe pendências novas, só as antigas que estão sob controle.

E aí vem a contradição, porque o futebol que deveria ser a solução, é o grande problema.

Resta saber se o futebol já não é incômodo para o Paraná como instituição.