Ginecomastia deixa adolescentes constrangidos

Não são todos os meninos que se sentem confortáveis ao tirar a camisa em público, seja no jogo de futebol entre os amigos ou na academia. Um razoável número deles sente vergonha do próprio corpo, por isso é mais comum do que se imagina escondê-lo por detrás de camisetas bem acima do tamanho normal.

Sem contar o excesso de timidez, as camisetas mais largas ou o caminhar curvado. O cirurgião plástico Alderson Luiz Pacheco explica que, nos homens, as glândulas mamárias não têm função alguma.

“É como se fosse um resquício da fase embrionária”, explica o médico. Lembra também que a masturbação não causa a doença, uma questão que ainda traz dúvidas.

“Estas são reações típicas de garotos que sofrem com o crescimento benigno de mamas ou ginecomastia”, explica o cirurgião plástico Ruben Penteado. O que incomoda são os peitos mais avantajados que insistem em aparecer.

A maioria dos casos de ginecomastia apresenta-se na puberdade, com uma incidência de 65%, entre jovens de 14 e 15 anos. Essa condição desaparece durante os últimos anos da adolescência, apresentando-se apenas em 7%, aos 17 anos de idade. A incidência aumenta com a progressão da idade, atingindo até 30%, nos homens idosos.

Constrangimento

No Brasil, não existem estatísticas específicas sobre a incidência da ginecomastia, porque não, necessariamente, o problema necessita ser resolvido por meio de cirurgia plástica, em muitos casos, o desenvolvimento de mamas regride por si só.

Uma estimativa da regional paulista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica indica que 10% das cirurgias plásticas em homens são realizadas para a correção da anomalia, cerca de 22 mil operações por ano.

Depois de uma investigação mais apurada, nos casos para os quais a cirurgia plástica é caminho o mais indicado, ela pode ser feita em qualquer fase da adolescência, pois a glândula mamária retirada não fará nenhuma falta após o crescimento.

Ao contrário, afastará o constrangimento social, sempre muito presente nessas condições. “Após a cirurgia, o principal ganho é o social, o paciente fica muito mais confiante para se integrar ao seu grupo”, reconhece o especialista.

Segundo Ruben Penteado, 50% dos casos são de ginecomastia mista. “Nesses casos, o paciente passa primeiramente por uma lipoaspiração e, depois, pela retirada da glândula mamária”, recomenda.

A ginecomastia pode se manifestar em três fases: nos primeiros dias de vida, na adolescência e na andropausa. Nos dois primeiros casos, o problema costuma desaparecer sozinho.

O aparecimento da ginecomastia no adulto, principalmente no idoso, implica numa investigação de outras doenças que podem levar a um aumento das mamas no homem.

Entre elas, os problemas hepáticos que podem causar alterações no metabolismo dos hormônios ou até mesmo o câncer da mama masculina, principalmente quando a doença se manifesta de maneira dolorosa e em apenas um dos lados.

Uso de anabolizantes

Além das causas fisiológicas, a ginecomastia pode aparecer em decorrência do consumo de anabolizantes, cerveja e maconha. De acordo com o cirurgião, presente nos anabolizantes, usados para aumentar a massa muscular, a testosterona pode ser transformada pelo organismo masculino em estrogênio, o hormônio feminino.

Como resultado, vemos o aparecimento de traços femininos no garoto, sendo o desenvolvimento de mamas um deles. A mastologista Maria Elisabeth Mesquita atesta que o uso indiscriminado de esteróides anabolizantes criou um novo grupo de po,rtadores da doença.

“Apesar de o aumento nas mamas causar grande desconforto aos adolescentes, outros efeitos que podem ocorrer são a presença de acne, retenção de líquidos, inchaço, dores nas juntas e elevação da pressão sangüínea”, explica a médica.

Medicamentos como anti-hipertensivos ou antidepressivos também estão relacionados como possíveis causadores do distúrbio. Nos casos de homens de idade mais avançada, o uso de medicação para o tratamento das úlceras gástricas também favorece o aparecimento do problema.

“Essas são as causas não fisiológicas da ginecomastia. O médico precisa investigar esses fatores quando recebem um paciente com essa condição”, alerta Ruben Penteado.

Indicações cirúrgicas

A técnica cirúrgica a ser empregada depende do tipo de ginecomastia e de sua severidade. De acordo com os especialistas, existem três técnicas que podem ser utilizadas separadamente ou em combinação para resolver o problema: a  lipoaspiração, a lipoaspiração ultrassônica e mamoplastia redutora.

Todos os procedimentos são feitos de forma ambulatorial, com anestesia local e sedação. Têm duração que varia entre 45 e 60 minutos. No pós-operatório, os cuidados a serem observados nos 15 dias depois da cirurgia são o uso de malha elástica e a recomendação da realização de sessões de drenagem linfática.

“O estresse psicológico é a razão principal para a indicação cirúrgica, mas os resultados estéticos têm grande importância para esses pacientes, devendo-se considerar o tamanho da cicatriz e deixá-la o mais imperceptível possível”, completa Penteado.