Idosos solitários sofrem mais de depressão

Tratar a pessoa idosa apenas como mais um “enfeite de sala”, só lhe dirigindo a palavra quando é estritamente necessário.

Excluir o idoso dos seus planos para férias e passeios. Deixa-los sozinhos em casa quando o restante da família é convida para algum jantar ou confraternização, argumentando que eles não irão se sentir bem no local.

Infelizmente, essas atitudes ainda são comuns na vida das famílias brasileiras, que, frequentemente, nem percebem o mal que estão fazendo aos vovôs e vovós, ao isolá-los, deixando-os à margem do convívio social e familiar.

A tendência de algumas famílias, muitas vezes inadvertidamente, é reduzir a atividade social dos idosos, que fica restrito a fazer ou receber visitas de parentes da mesma faixa etária, além de marcar presença em velórios e visitas a algum conhecido com problemas de saúde. De acordo com o especialista em clínica médica Abrão José Cury Júnior, essas atitudes acabam rebaixando a autoestima dos “velhinhos”, que ficam mais tristes e solitários, acabando por se desinteressar pelo convívio social.

Na avaliação do médico, em muitos casos, a família acaba contribuindo sobremaneira para tal situação ao isolar o idoso, acentuando sintomas de depressão.

Estímulo

Uma doença com grande prevalência no idoso, principalmente entre as mulheres (também por fatores hormonais e emocionais), a depressão, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) será uma das enfermidades mais comuns até o ano de 2020.

“A tendência é que ocorra realmente um avanço significativo da doença, já que, em 10 anos, 30% da população mundial terá mais de 65 anos”, afirma a psiquiatra Giuliana Cividanes, especialista em transtornos afetivos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“A medicina oferece às pessoas da terceira idade a possibilidade de ter uma vida social ativa e de boa qualidade”, reitera Abrão Júnior. Com a ajuda de medicamentos, fisioterapia, próteses auditivas e articulares, por exemplo, eles conseguem melhorar a sua qualidade de vida e deixar de ser um “peso morto” para a família.

Além de atividades físicas adequadas à idade, o idoso deve ser estimulado, por meio de exercícios mentais, como conversar, ler e se ocupar. “Ao invés de colocar alguém para cuidar do avô, dê algo para ele cuidar”, aconselha o médico.

Isolamento social

Os principais fatores que desencadeiam a depressão são a perda do emprego, morte de familiares ou de amigos e fim de relacionamentos. Na terceira idade, algumas dessas situações ocorrem com grande frequência, somadas a certa perda de independência e de cognição (atenção e memória), redução da capacidade de executar determinadas tarefas, bem como ao maior isolamento social e a problemas econômicos.

Ao contrário do que muitos pensam, a tristeza desproporcional e persistente ou o desinteresse pelos acontecimentos não são acontecimentos naturais causados pelo envelhecimento.

Segundo o especialista, os idosos podem e devem ter boa qualidade de vida. Para isso, precisam manter-se ativos, produtivos e saudáveis. A depressão no idoso pode ser mais sutil, o que dificulta sua identificação e descamba com mais facilidade para formas mais graves de depressão, especialmente quando não é identificada a tempo ou não é tratada corretamente.

“Outro problema sério é que o não tratamento da depressão pode contribuir para que surjam ou se agravem outras doenças, inclusive cardiovasculares, comprometendo ainda mais a qualidade de vida do paciente”, observa o do cardiologista Jairo Lins Borges.

Rápida identificação

Ele explica que o diagnóstico da doença pode ser feito também por clínicos gerais e não especialistas em psiquiatria, por meio de questionários de fácil aplicação. É possível identificar se o paciente está integrado e participando das atividades familiares e comunitárias ou profissionais e se está mantendo boas relações sociais.

“,Os médicos, independentemente da especialidade, devem procurar ver o paciente como um ser completo, com alterações emocionais, psíquicas e físicas, pois assim o diagnóstico será mais preciso e o atendimento às suas necessidades será mais completo”, reforça o cardiologista.

É fundamental que a depressão seja identificada rapidamente, pois o tratamento em seus estágios leve e moderado é mais simples. A psiquiatra Giuliana Cividanes enfatiza que a depressão é uma doença tratável, com melhora inclusive das deficiências cognitivas nos idosos, mas é imprescindível que o médico esteja apto a distinguir entre os sintomas depressivos e os apresentados por pacientes que sofrem de diferentes tipos de demência, como, por exemplo, Alzheimer, pois erros de diagnóstico e tratamento podem comprometer de modo relevante a qualidade de vida das pessoas.

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Sintomas de depressão em idosos

Cognitivos

Irritabilidade
Tristeza, desânimo
Dificuldade de concentração
Lentificação do raciocínio
Sentimento de abandono ou inutilidade
Diminuição da auto-estima
Retraimento social/solidão
Idéias de morte e tentativas de suicídio

Neurovegetativos

Inapetência
Emagrecimento
Distúrbio do sono
Perda da energia
Lentificação psicomotora
Hipocondria
Dores inespecíficas

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