Depressão pré-natal afeta 10% das gestantes

foto thinkstockQuando o bebê está para chegar, a futura mamãe fica ansiosa, não dorme direito, fica preocupada, mas exibe um sorriso de orelha a orelha mesmo com todas as chateações da gravidez. Isso acontece com a maioria das mulheres, mas, para algumas, a gravidez não é motivo para comemorações.

Segundo estudo do Coren (Conselho Regional de Enfermagem), cerca de 10% das mulheres brasileiras sofrem de depressão pré-natal, doença tão grave quanto os demais tipos de depressão e que, se não for tratada como deve, pode trazer sérios problemas para a mãe para o bebê.

“Na gravidez há uma mudança no estilo de vida da mulher e isso a deixa extremamente sensível. Só isso já é uma porta de entrada para vários problemas, principalmente os de fundo psicológico”, explica ginecologista e obstetra Carolina Carvalho, da Unifesp. 

A depressão pré-natal pode demorar a ser diagnosticada, uma vez que a mulher grávida não costuma procurar ajuda para falar sobre seu estado emocional. “A tristeza vem, mas a mulher pensa que já vai passar e isso a impede de pedir ajuda”, diz a ginecologista.  

 Por que acontece?

Além da sensibilidade da mulher no período, a depressão pré-natal não é um fator isolado, como explica a psiquiatra Florence Karr Correa, da Unesp: “Durante a gravidez, a mulher tem inúmeras preocupações, mas a depressão vem, na maioria das vezes, para aquelas que já passaram por um quadro de sintomas depressivos ou que tem tendências ao problema.”

O agravamento da doença está associado ainda a condições externas, como por exemplo, uma gravidez indesejada ou inesperada. “Problemas financeiros, dificuldades com o marido, falta de suporte familiar, tudo isso acentua o estado de depressão”, afirma a psiquiatra Florence Karr.

De acordo com a médica da Unesp, a mesma mulher pode ter gestações diferentes, por isso, o quadro depressivo pode se manifestar a qualquer momento. “A depressão pré-natal é mais frequente quando a futura mãe (em geral as muito mais jovens) se sente despreparada, mas pode acometer mulheres mais velhas que, inclusive, já são mães. As gestações são diferentes e o contexto modifica muito o comportamento da mulher”, completa Florence Karr Correa. 

Sintomas

Os sintomas da depressão pré-natal são parecidos com os sintomas dos demais tipos de depressão, inclusive a depressão pós-parto: tristeza profunda, irritabilidade, desânimo, falta de energia, movimentos e pensamento lento, alterações no senso de humor, alterações no sono, falta de apetite. “O diferencial é que esses sintomas vêm associados à culpa, incapacidade de cuidar de um filho, falta de afeto pela criança que irá nascer”, enumera a psiquiatra.

Como completa a ginecologista Carolina Carvalho, “aos sintomas comuns, há o agravante de que a mulher não consegue se voltar para o bebê e se preparar para a maternidade; ela não se anima com o enxoval ou para comprar os brinquedos da criança, por exemplo”. 

Complicações

A mulher que se encontra na situação de depressão pré-natal tem dificuldade para aceitar as mudanças pelas quais está passando e acaba por não tomar os cuidados necessários para que a gestação seja saudável, o que pode trazer sérias complicações para o bebê que irá nascer.

Quando a mulher não tem uma alimentação equilibrada, repouso e momentos de relaxamento podem surgir riscos para a criança, como desidratação, baixo peso e prematuridade. “Além disso, a mãe nessas condições não estimula o bebê, o que pode afetar seu desenvolvimento neuropsicomotor e futuramente gerar problemas de relacionamento e de aprendizado”, explica a psiquiatra da Unesp.

Para a ginecologista Carolina Carvalho, a principal consequência da depressão pré-natal é a barreira que se forma entre mãe e o filho. “O vínculo que a mãe tem com o filho é o principal para a saúde do bebê, para que ele se sinta seguro e amado. Quando a mulher está sofrendo com a depressão pré-natal, não se aproxima do bebê, gerando desconforto para os dois lados”, diz. 

E pode tomar remédio?

Durante a gravidez, recomenda-se evitar o uso de remédios para tratar até uma simples gripe. No entanto, nesse caso, o tratamento medicamentoso não deve ser descartado. “

Se os sintomas são leves e a mulher está começando a entrar no quadro de depressão, o tratamento mais aconselhável é o da psicoterapia, com sessões personalizadas que irão dar suporte para a mulher contornar o problema”, afirma a psiquiatra Florence Karr. “Mas, quando a mulher procura tratamento tardiamente, nós costumamos tratar o problema com antidepressivos que não prejudicam a saúde do bebê”.

Dessa forma, quando os sintomas começarem a aparecer, o mais saudável é procurar um especialista de área médica para que o tratamento seja feito o mais rápido possível e de forma segura e tranquila para a futura mãe e para o bebê. É importante que a mãe tenha consciência de que a depressão pré-natal pode (e deve) ser um quadro passageiro para não interferir na formação da criança.

Porém, esperar que o ânimo venha sozinho pode ser arriscado. “A depressão pré-natal, se não tratada, pode evoluir para um quadro de depressão pós-parto, dificultando na recuperação da mulher”, explica a especialista da Unesp.