Idosos precisam de autonomia

A vida dos idosos está longe de ser tranqüila e distante de preocupações, como pode parecer. Com o passar dos anos, a falta de disposição para realizar atividades cotidianas é, quase sempre, a principal queixa das pessoas de mais idade, principalmente das mulheres. ?Nessa faixa etária há uma diminuição da resposta emocional, acarretando um predomínio de sintomas como diminuição do sono, perda de prazer nas atividades habituais, inquietações sobre o passado e perda de energia?, enumera a psiquiatra Mônica Cristine Jove Motti.

De acordo com a médica, os distúrbios psiquiátricos mais prevalentes nos idosos são as síndromes depressivas e as demências, situações que alteram a qualidade de vida, aumentam a morbidade e a mortalidade do idoso. Mesmo fazendo parte de uma entidade patológica importante, a depressão é pouco estudada, pelo fato de ser de difícil medição e identificação, o que só aumenta a gravidade do problema. O médico Antônio Augusto de Arruda Silveira Júnior, especialista em envelhecimento, lembra que, apesar de sua relevância, a depressão é um distúrbio de difícil mensuração. ?O principal motivo é o fato de que os idosos não possuem bons informantes e, por isso, numa primeira avaliação, os sintomas depressivos podem passar despercebidos?, relata.

Fatores desencadeantes

Em muitos casos, a depressão surge como conseqüência secundária a uma doença física, como, por exemplo, hipotireoidismo ou hipertireoidismo e carcinomas, ou por sintomas da própria doença física (muitas vezes incapacitante), devido às limitações e mesmo à dor que a doença está causando. ?Outra causa de depressão é o uso abusivo de álcool, benzodiazepínicos e drogas ilícitas, fatores que, nestes casos, independem da idade?, reconhece Mônica Motti. Quanto aos fatores psicossociais relacionados à depressão, como o falecimento do cônjuge, o afastamento dos filhos, a diminuição de renda, as limitações físicas, a aposentadoria e as modificações no papel social, todos podem afetar o idoso de diversas maneiras, dependendo da idade, do tipo de evento, da personalidade e da história de vida de cada um. ?Podem ser fatores desencadeantes ou mesmo fatores predisponentes?, esclarece a especialista.

Assim como para outras doenças de caráter crônico, a escolaridade é um fator de proteção para a depressão na terceira idade. Essa relação é encontrada na questão do trabalho remunerado. Assim, idoso que trabalha tem menos chances de se tornar depressivo. ?Devido à desvalorização que o idoso sofre na sociedade, principalmente nos países em desenvolvimento, esse achado pode indicar que aqueles que se mantêm no mercado de trabalho continuam se sentindo úteis à comunidade?, completa Antônio Augusto de Arruda Silveira Júnior.

Causas da depressão em idosos

Luto – O luto é um fator desencadeante de transtornos de ansiedade. Observa-se um aumento de consultas médicas e um aumento da mortalidade por suicídio e acidentes, entre elas.

Demência – A presença de depressão emocional pode chegar a 20% nos idosos, afetando a cognição e a motivação para a memória. Alguns casos são reversíveis após o tratamento, porém em outros os pacientes evoluem para demência.

AVC – A depressão é a complicação psiquiátrica mais freqüente nos pacientes com acidente vascular cerebral (AVC). Observa-se que, após este evento, o paciente apresenta uma limitação funcional, com conseqüências negativas nas relações interpessoais.

Doenças cardíacas – Estudos sugerem que a depressão é um fator de risco para o desenvolvimento da doença coronariana e também leva a um aumento da mortalidade após um infarto do miocárdio, devido, principalmente, à diminuição da aderência dos pacientes cardíacos ao tratamento.

Institucionalização – O idoso que vive em algum tipo de instituição, separado do ambiente familiar, sente-se abandonado, dependente e inútil. Este processo pode levar a um quadro de depressão mesmo que o paciente não tenha histórico da doença.

Sujeitos ativos

Pesquisas apontam que ocupar o idoso com muitas tarefas, sem considerar suas vontades e características próprias, não previne o surgimento da depressão. O tratamento psicológico de idosos com esse distúrbio precisa valorizar a autonomia e a individualidade dos pacientes. "Devemos tratá-los como sujeitos ativos", afirma a psicóloga Cláudia Aranha Gil.

Ela considera que controlar o idoso, dizendo sempre o que é melhor para ele, retira muitas vezes suas possibilidades de entrar em contato com seus sentimentos e pensamentos e de agir em busca de soluções .

Assim, a investigação de depressão em idosos torna-se cada vez mais importante, visto que é uma enfermidade muito prevalente e que, freqüentemente, é considerada uma decorrência natural do envelhecimento, sendo negligenciada como possível indicador de uma morbidade que causa severos danos à sua qualidade de vida e de seus familiares, resultando, também, em custos elevados para a sociedade em geral.

No Brasil, muitos idosos são responsáveis pelo sustento da família, seja por meio da participação no mercado de trabalho, ou pelo seu rendimento de aposentadoria.

Se nos países desenvolvidos o aumento da população idosa é acompanhado por melhorias de suas condições de vida, nos países em desenvolvimento a situação é diferente. Nesses países a população idosa vem aumentando, freqüentemente, em um cenário de pobreza e falta de assistência às suas necessidades básicas.

De acordo com os pesquisadores, o fato de se encontrarem sintomas depressivos em altas proporções nos idosos ressalta a importância de que os profissionais se capacitem a reconhecer as formas mais comuns de apresentação das síndromes depressivas, permitindo intervenções cada vez mais precoces e eficazes.

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