Uso irracional de antibióticos faz surgir as superbactérias

O caso de uma jovem de 18 anos, que permaneceu internada por alguns meses, despertou a atenção da comunidade médica e da população. Ela foi a primeira paciente a apresentar um quadro grave de contaminação pela bactéria Staphilococcus aureus tipo IV. O tipo III dessa bactéria é comum em quadros de infecção hospitalar, mas a paciente foi contaminada fora do ambiente hospitalar. Os sintomas começaram com um quadro gripal, seguido por pneumonia. Para a comunidade médica, o registro de um caso clínico desencadeado pela bactéria serve de alerta para discutir que antibióticos ministrar nos pacientes.

Da penicilina desenvolvida em 1929 até a tigeciclina criada em 2005, em toda a história da medicina se pode observar como o desenvolvimento dos antibióticos trouxe novas esperanças para o combate de inúmeras enfermidades, no entanto, com o abuso na prescrição desse tipo de medicamento, as bactérias não tardaram a oferecer resistência.

O infectologista sul-africano Adrian Brink, especialista em microbiologia, assinala que a batalha para eliminar as bactérias é um desafio não só da indústria farmacêutica, como dos médicos e da sociedade. ?Tão logo surge um novo antibiótico, os microorganismos começam a desenvolver resistência a ele. Se não fosse pelo fato de que temos criado cada vez mais medicamentos, teríamos hoje problemas sem solução?, adverte. Brink, uma das maiores autoridades mundiais em doenças infecciosas, disse, em Curitiba, ao participar de um seminário para especialistas, que é necessário melhorar os métodos de diagnóstico microbiológico em nível hospitalar e que os antibióticos devem ser utilizados de forma racional e específica.

Conscientização

Clóvis Arns Cunha, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas da UFPR e do Hospital Nossa Senhora das Graças, comentou que é muito comum observar nas consultas que a mãe administre qualquer medicamento ao seu filho ou volte a repetir um tratamento anterior, às vezes sem seguir uma prescrição médica, o que faz com que as bactérias se tornem resistentes aos antibióticos, transformando-as em superbactérias de difícil erradicação. ?A população precisa se tornar mais consciente desse sério problema de saúde que é a resistência bacteriana e evitar principalmente a automedicação?, alertou.

O infectologista salientou que as infecções mais freqüentes podem ser divididas em dois grupos: as infecções adquiridas em hospital ou aquelas obtidas na comunidade. As hospitalares se originam pela presença de germes muito resistentes que afetam os pacientes que se encontram em tratamento de doenças renais, leucemias ou doenças crônicas degenerativas, entre outras. As UTIs são as áreas no hospital mais sujeitas às infecções, não só porque nelas os pacientes estão com a imunidade comprometida, mas, também, porque o uso de antibióticos nesses locais é bem maior. De acordo com o médico, as infecções adquiridas na comunidade afetam mais as crianças, entre elas, os distúrbios respiratórios e gastrintestinais e de pele.

A tigeciclina

A Wyeth Farma, indústria farmacêutica de pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos, acaba de lançar no mercado brasileiro o antibiótico Tygacil? (tigeciclina). O medicamento inaugura uma nova classe de antibióticos e não é afetado pelo mecanismo de resistência bacteriana, podendo ser utilizado para o tratamento de infecções, como apendicite complicada, queimaduras contaminadas, abscessos intra-abdominais, infecções dos tecidos moles profundos e úlceras da pele contaminadas, entre outras. A venda é destinada apenas a hospitais e clínicas.

Considerações básicas sobre o uso de antibióticos

*    Não use antibióticos sem prescrição médica.

*    Não aproveite medicamentos de receitas anteriores.

*    Tome o medicamento durante o período indicado pelo médico (nem mais nem menos).

*    Alguns tipos de infecções de ouvido requerem antibióticos, mas não todas.

*    Bronquite aguda ou tosse também não necessitam de antibióticos.

*    Tratar de infecções virais com antibióticos não serve para evitar infecções bacterianas.

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