Curitiba é a capital da aranha-marrom

Cresce a cada ano em Curitiba o número de casos de acidentes com aranha-marrom. Só no ano passado foram 3.741 notificações -64% das vítimas são mulheres. A grande preocupação dos pesquisadores e órgãos de saúde é a necessidade da conscientização da população para evitar a proliferação do aracnídeo.

Conforme o coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em Animais Peçonhentos (Lilape) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Oldemir Carlos Mangili, na década de 80 a aranha-marrom era encontrada fora das casas, sendo predominante em ambientes como buracos de tijolos, embaixo de cascas de árvores ou em entulhos de material de construção. Mas, a partir da década de 90, as aranhas começaram a ser identificadas dentro das casas. Ele atribuiu essa mudança a diversos fatores. ?O desmatamento em conseqüência da construção civil, o aumento das temperaturas e o perfil comportamental da própria população, que tem como costume guardar entulhos dentro de casa, facilitaram a proliferação da aranha?, comentou.

Aliadas a isso, estão a falta de predadores naturais – lagartixas, sapos e aves -, e a rápida reprodução. Uma aranha fêmea tem uma vida média de cinco anos, e pode colocar nesse período cerca de 250 filhotes. O pesquisador disse que não é exagero afirmar que ?Curitiba é capital mundial da aranha-marrom?.

Levantamento

Cerca de 80% dos acidentes envolvendo a arranha acontecem quando as pessoas vestem a roupa. As mulheres acabam sendo as maiores vítimas por passarem mais tempo em casa. Segundo o biólogo da Secretaria Municipal de Saúde, Marcelo Luiz Vettorello, algumas regiões da cidade concentram um maior número de acidentes considerados graves, como São Braz e Sítio Cercado.

A secretaria está iniciando um estudo para verificar quais os motivos dessa concentração e se existe a prevalência de alguma espécie de aranha nessas regiões. Outra preocupação é que a incidência maior de acidentes ocorria no verão. ?Mas como agora não temos longos períodos de frio, mesmo no inverno, os acidentes ocorrem praticamente o ano todo?, falou.

Como não existe qualquer repelente eficiente contra a aranha-marrom, os dois profissionais orientam que a população precisa colaborar mantendo os ambientes limpos e sem condições que favoreçam a proliferação desses aracnídeos. Um dos principais sinais da presença da aranha são as teias.

Mangili afirmou ser contra o uso de inseticidas para tentar exterminar as aranhas, já que elas se tornam resistentes a esses produtos. Elas possuem baixa permeabilidade ao veneno, e o uso indiscriminado pode contribuir para o desaparecimento de pequenas espécies.

Estudos

O aumento dos casos com picada de aranha-marrom fez despertar nos pesquisadores a investigação. Já foram desenvolvidas 10 teses de mestrado, três de doutorado e mais de 23 trabalhos científicos publicados no exterior sobre o assunto.

A Secretaria de Estado da Saúde desenvolveu um soro feito a partir do veneno da aranha, que é utilizado para neutralizar as conseqüências nos seres humanos. Mangili adiantou que o laboratório teve aprovada junto à Secretaria de Estado da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior (Seti) recursos para a produção de medicamentos a partir do veneno da aranha. Os estudos já demonstraram que as proteínas existentes no veneno podem desmanchar coágulos de sangue, e poderão ser utilizadas em terapias de desobstrução de vasos.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, em 2001 Curitiba registrou 3.064 casos de picada de aranha-marrom. Em 2002 foram 3.152, número que caiu para 2.680 casos em 2003 e voltou a subir em 2004.

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