Políticos farão caçada digital ao voto

Nessas eleições está valendo quase tudo no uso da internet. Uma das mais baratas e poderosas mídias, por lei, foi praticamente liberada para uso nas campanhas e, por isso, ganhou a dedicação dos profissionais de marketing político.

Candidatos conhecidos e desconhecidos do público brasileiro passaram a interagir com os eleitores em 2010 através de sites como Orkut, Facebook, Twitter, Ning e blogs particulares. É a primeira eleição em que o brasileiro terá uma ligação tão aberta com os candidatos, podendo conhecer suas ideias e questioná-los através da rede mundial de computadores.

Para o consultor de marketing digital Conrado Adolpho, autor do livro Google Marketing, se souberem utilizar adequadamente os recursos da internet, os políticos podem atingir um público maior do que imaginam. O grau de atividade do consumidor de internet é tão alto que, se for atingido pela campanha política, ele se torna um poderoso disseminador. “Há 30 anos o consumidor lidava apenas com meios de comunicação passivos, como a televisão e o jornal, onde não era possível mudar o que era apresentado. Com a chegada da internet, ele começou a interagir com o meio e teve à sua disposição uma quantidade infinitamente maior de informação. Quem tem o poder da informação, é mais engajado, defende e dissemina conceitos e ideias, atingindo muitas outras pessoas”, explica, referindo-se ao conceito de marketing viral.

Segundo Conrado, dos 62 milhões de usuários de internet brasileiros, talvez nem 30 milhões sejam usuários residenciais. Os números estão muito abaixo dos Estados Unidos, onde a internet já é meio de comunicação para campanhas políticas há muitos anos e ajudou a eleger Barack Obama, por exemplo. Pedro Lima, diretor de Search Engine Marketing da Agência 110 de marketing digital, acredita que os candidatos brasileiros seguirão o exemplo. “A campanha de Obama teve iniciativas tão engajadoras na internet que envolveu até mesmo os americanos que nunca tinham votado. Na Inglaterra, os gastos com a publicidade na internet este ano poderão superar os gastos da propaganda em TV e serão responsáveis por cerca de 19% do mercado total de publicidade. Se para as marcas já funciona dessa forma no Brasil, para as campanhas políticas não seria diferente”, garante.

Lei

A Lei 12034, publicada no final de 2009, alterou a Lei dos Partidos Políticos (9504/97), o Código Eleitoral (4737/65) e a Lei 9096/95. As alterações liberaram o uso de diversos recursos inéditos na campanha política, como as redes sociais, blogs e envio de mensagens eletrônicas. “Até a eleição passada, os candidatos só podiam ter na internet um site registrado na Justiça Eleitoral”, lembra Ana Flora França e Silva, secretária jurídica do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TER-PR).

Apesar das permissões, há alguns limites. É proibida a veiculação de propaganda paga e o uso de sites de pessoas jurídicas para campanha política. Quem transgredir à regra pode pagar multa de R$ 5 mil a R$ 30 mil. Os candidatos não podem comprar cadastro eletrônico de ninguém, e órgãos públicos são proibidos de ceder o cadastro que possuem para os candidatos. O envio de mensagens eletrônicas deve ter um dispositivo de descadastramento para quem não quiser receber as informações. A retirada do nome do interessado deverá ser feita em até 48 horas. O site dos candidatos, partidos e coligações deve ser hospedado em provedor de serviço de internet brasileiro.

É vedado o anonimato durante a campanha eleitoral pela internet e é assegurado o direito de resposta a quem se sentir ofendido. Quem enviar mensagens eletrônicas depois do término do prazo previsto estará sujeito a multa de R$100 por mensagem. Quem realizar propaganda da internet atribuindo a autoria a outra pessoa também está sujeito a multa. A lei ainda prevê que “a Justiça Eleitoral poderá determinar a suspensã,o, por 24 horas, do acesso a todo conteúdo informativo dos sítios da internet que deixarem de cumprir as disposições desta Lei”.

O usuário que perceber alguma ilegalidade em campanhas políticas pela internet pode denunciar. “Temos três procuradores da república que estão recebendo as denúncias. Elas são posteriormente encaminhadas a um juiz do TRE para análise”. As denúncias podem ser encaminhadas para o e-mail pre@prpr.mpf.gov.br.

Com tantos novos recursos disponíveis, Conrado acredita que as campanhas ainda não estão adaptadas. “A lei permitiu o uso da internet porque viu que não dava para controlar. Mesmo com tantas possibilidades para 2010, os políticos ainda não utilizam a internet como poderiam. Nem as empresas conseguem utilizar da forma mais correta, imagine o político que tem equipes menores”, ressalta.

O “verbo” da moda é twittar

A rede social que mais obteve a adesão dos candidatos às eleições de 2010 foi o Twitter. Roberto Requião e Alvaro Dias, por exemplo, já utilizam a rede há meses para conversar com seus eleitores. Para o professor Misselo Medina, 28 anos, seguidor de diversos políticos no microblog, o uso dessa ferramenta é uma excelente escolha. “É uma forma de aproximação do público jovem, haja vista que poucas pessoas dedicam seu tempo para assistir ao horário eleitoral na televisão. A vantagem é que o candidato pode fazer a sua campanha sem gastar nenhum dinheiro, expondo suas ideias em seus microblogs”, lembra.

O músico Marcel Ginn, 37, concorda. “Se neste País o voto é obrigatório, obrigatoriedade também é conhecer os candidatos, saber suas propostas, conhecer seu passado. Além disso, cobrá-los é parte contínua do processo eleitoral”, afirma. É claro que, como em todas as outras redes, no Twitter também há perfis falsos, mas bem humorados. Do perfil @dilmabr, oficial da candidata à presidência Dilma Roussef, já foi criado o @DilmaHussein, um perfil falso que faz piadas sobre a campanha da petista. O mesmo aconteceu com seu principal concorrente à presidência, José Serra. O perfil oficial é @joseserra-, mas já foi criado o perfil de piadinhas @SerraColirio. (FD)