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Crescem pesquisas sobre doenças na internet

Com o crescimento da internet nos últimos anos, a pesquisa por informações em sites de busca consequentemente estão cada vez maiores, em especial, a procura por dados sobre a utilização de remédios.

Esse crescimento serviu como base para um estudo realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Eles analisaram diversos artigos estrangeiros que tratam do tema e concluíram que, para os profissionais de medicina, é hora de se atualizar.

O estudo foi desenvolvido pelos doutorandos da Escola Nacional de Saúde Pública, Helena Beatriz da Rocha Garbin, Maria Cristina Rodrigues Guilam e André de Faria Pereira Neto.

Para chegar ao resultado, os pesquisadores compararam 15 artigos publicados entre 1997 e 2006 nos periódicos britânicos Social Science and Medicine e Sociology of Health & Illness. “Escolhemos esses artigos porque foi o período em que houve a democratização da internet e, consequentemente, o crescimento da busca desse tipo de informação. Esse é um tema muito recente e pouco estudado no Brasil”, revela Garbin.

Durante a construção do estudo, a doutoranda afirma que foram constatadas três questões diferentes. “Algumas teses defendem os pacientes bem informados e que valorizam o papel do médico, outras, dizem que o livre acesso à informação leva a uma desprofissionalização do médico.

Já um terceiro ponto de vista sustenta que, mesmo questionando certas posições dos médicos, pacientes mais interessados possibilitariam um diálogo mais profundo sobre as doenças com os profissionais”, conta Garbin.

Para a doutoranda, essa tese confirma que os profissionais da saúde necessitariam estar cada vez mais atualizados, elaborando pesquisas e conhecendo melhor esse universo em que se insere o paciente e sua relação com a internet.

“Sabemos que na saúde o contato humano é essencial. Tradicionalmente existe uma relação muito forte entre médicos e pacientes. É preciso compreender que esse poder está se equilibrando. Acredito que os profissionais devem trabalhar com o paciente ao invés de para o paciente”, relaciona Garbin.

Benefícios

Quando utilizada de forma correta, a médica confirma que a internet pode ser um fator positivo na busca de informações sobre medicamentos e doenças.

“É uma ferramenta importantíssima para se complementar informações, conhecer pessoas, mas não para tornar como referência e verdade absoluta”, afirma.

Portanto, é preciso tomar cuidado com o que se encontra na rede. “Muitas páginas podem ser escritas sem nenhum embasamento, ou serem simplesmente veículos de empresas comerciais, interessadas na divulgação de medicamentos”, alerta Garbin.

Quando perguntada sobre como um paciente internauta poderia se informar com veracidade pela rede, a médica dá a dica: sites institucionais. “É recomendável que o doente procure páginas não comerciais, ligadas a universidades e associações médicas. A visita a um especialista não deve ser descartada em momento algum”, recomenda.

Sobre os próximos planos em sua tese, Garbin adianta que irá começar a aplicar o estudo com os brasileiros. “No Brasil vou entrevistar pessoas com doenças crônicas e tentar entender como a enfermidade e a internet entraram na vida dessas pessoas”, conta.

Para CRM, opinião embasada é fundamental

Arquivo pessoal
Helena da Rocha Garbin: “Houve a democratização da internet”.

Sites de busca podem solucionar certos problemas. Mas, quando se trata da saúde, o melhor mesmo é sempre confiar na opinião embasada do profissional da Medina.

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Para o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM) do Paraná, Miguel Ibraim, estar bem informado nunca é demais. “Um dos grandes desafios do médico é conseguir informar o paciente – durante a consulta – sobre a importância de seu tratamento, sua doença, como ele deverá agir a partir do momento que descobre a enfermidade e sobre a maneira correta de tratá-la”, afirma.

Quanto mais informações o paciente tiver, mais fácil é para ele entender aquilo que o médico quer passar na consulta. “No entanto, o perigo de se informar pela internet é que nela temos uma descrição parcial ou apenas uma leitura de dados com pouca conclusão e muitas vezes são textos opinativos. Com isso, o paciente pode deixar de dar credibilidade à informação do profissional”, teme Ibraim.

Ao estar embasado com informações da internet, Ibraim diz que o conflito entre o médico e o paciente pode acontecer. Isso pode fazer com que a relação entre o profissional e o médico seja prejudicada.

“Muitas vezes o paciente, na ânsia por mostrar que sabe, acaba confrontando a opinião que o profissional tem. Isso pode afastar se não for tratado com habilidade e cautela pelo profissional”, frisa.

Automedicação

Para o médico, além da veracidade da informação, o grande risco que o paciente corre ao se informar pela internet são as chances de acontecer a automedicação. “Qualquer informação imparcial, sem conhecimento aprofundado não dá condições aos pacientes de usar os medicamentos por conta própria. As chances de complicações são grandes”, alerta.

Outro ponto apontado pelo presidente é o cuidado em não tomar remédios por indicação de conhecidos. “Os medicamentos podem surtir efeitos diferentes em determinadas pessoas. Nada contra ter informações, mas saber usar é importante. Uma informação isolada tem um valor, mas não como aquela que o profissional que estudou tem”, afirma.