Biotecnologia garante liderança na produção de café

O Brasil é o maior produtor de café do mundo e, por isso, tem a necessidade constante de manter a liderança diante da concorrência crescente com outros países. Além disso, existe a demanda por uma melhor qualidade do café brasileiro, visando a garantir um produto com maior valor agregado e que seja ainda mais apreciado pelos consumidores. Para alcançar este objetivo, a biotecnologia está sendo empregada mais uma vez. Pesquisadores já realizaram o seqüenciamento do genoma do café e, agora, estudam genes que podem ajudar na seleção das melhores plantas.

Em 2002, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café – que reúne diversas instituições do País, entre elas o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) – montaram o Projeto Genoma Café e fizeram o mapeamento da planta. A tarefa terminou em 2004 e gerou um banco de dados de 33 mil genes. O projeto se concentrou no café arábica, que corresponde a aproximadamente 70% da produção nacional. No entanto, seqüências do café robusta (usado principalmente para café solúvel) também foram obtidas.

De acordo com o pesquisador do laboratório de biotecnologia vegetal do Iapar e coordenador do Projeto Genoma Café pelo consórcio, Luiz Gonzaga Esteves Vieira, 70% dos genes já são conhecidos. “Agora, em cima desta base da dados, estão sendo realizadas várias pesquisas, estudando a resistência a doenças e pragas, estresse hídrico, qualidade e nutrição”, explica. O Iapar dedica-se principalmente ao estudo da qualidade do café.

Os resultados vão permitir, por exemplo, melhor seleção das plantas, ainda no viveiro. Com um pedaço da folha de cada muda, será possível identificar se aquela planta possui o gene mais favorável para determinada característica necessária. Desta maneira, consegue-se eliminar as plantas que não servem antes de plantá-las. Este processo reduz custos de produção e pode até mudar o manejo da cultura.

Outro objetivo com as pesquisas de genoma é o aumento da produtividade. “A análise funcional do genoma do café poderá acelerar em até 20 anos as pesquisas de melhoramento genético, permitindo melhorar a qualidade da bebida e manter o Brasil em posição de destaque dentro da cafeicultura, além de gerar tecnologias que devem beneficiar em grande parte os produtores e os sistemas de produção associados ao café”, ressalta Vieira.

O pesquisador assegura que outros países produtores de café também estão atentos e fazendo os estudos dos genomas. “Chegamos ao ponto em que, se não introduzir esta tecnologia e o conhecimento genético, você fica para trás”, define.

Relação genoma e qualidade

O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) conduz atualmente duas pesquisas a partir do mapeamento do genoma do café. Uma delas, em cooperação com uma instituição francesa, verifica o metabolismo do açúcar na planta. Este é um dos elementos que dá a qualidade ao café. “Estamos estudando agora a interação dos genes envolvidos no metabolismo do açúcar com situações ambientais. Queremos saber como os genes são ativados e, a partir daí, estabelecer a relação com a qualidade do produto”, esclarece o pesquisador do instituto, Luiz Gonzaga Esteves Vieira.
Outro estudo refere-se aos diterpenos cafestol e caveol, presentes no café. São substâncias antioxidantes e que podem estar associadas a um poder antica,ncerígeno no trato intestinal.

“Mas não se sabe como são produzidos ou a influência deles na qualidade do café”, pondera Vieira. O levantamento sobre os diterpenos pode ainda render conhecimento para a aplicação na
nutracêutica (combinação entre nutrição e farmacêutica). (JC)

Brasil cafeeiro

* O Brasil é o maior produtor de café do planeta, responsável por 30% do mercado internacional.
* É o único país que produz as duas espécies de café consumidas no mundo: a coffea arabica e a coffea canephora. (também conhecida como robusta ou conilon)
* A estimativa da produção brasileira em 2008: 45,85 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado
* A maior parte da produção é de café arábica (76,92%)
* Área total cultivada no Brasil: 2,3 milhões de hectares
* Maiores estados produtores de café: Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Paraná, Rondônia e Rio de Janeiro – correspondem a 98,2% da produção nacional
* O Estado de Minas Gerais, sozinho, é responsável por 50,4% da produção nacional
* O Paraná participa com 5% da produção nacional
* O Estado já teve 1,8 milhão de hectares no cultivo do café. Hoje, a área é de 156 mil hectares. O cultivo acontece nas regiões norte, noroeste, oeste e Norte Pioneiro
* O café corresponde a 3,2% da renda agrícola paranaense
* O Brasil é o segundo mercado consumidor de café, atrás somente dos Estados Unidos

Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic)