A tecnologia como suporte da educação

Escolas de ensino superior no Paraná vêm pesquisando e desenvolvendo projetos utilizando tecnologias de comunicação como suporte para aprendizagem presencial e para educação a distância. As reflexões de estudiosos passam pela prática pedagógica e pela forma de viabilizar projetos que envolvam recursos tecnológicos, levando em conta aspectos de produção e custo.

Diferente do paradigma tradicional, em que o aluno é considerado sujeito passivo que recebe o conhecimento e desempenha suas tarefas individualmente, nos ambientes virtuais que vêm sendo implementados pelas universidades predomina a visão de que estudantes aprendem melhor quando cooperam, desenvolvendo atividades juntos e ativamente. ?O foco no passado era o ensino. No novo modelo, o estudante passa a ser o centro do aprendizado?, diz o professor do mestrado em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Paulo Alcântara.

Ele diz que a PUCPR vem utilizando desde 1999 um ambiente de internet chamado Eureka, que por meio de salas virtuais e utilizando fóruns de discussão, chats dirigidos, promove a aprendizagem colaborativa entre os estudantes. ?O Eureka facilita que alunos expressem suas opiniões e desenvolvam juntos seus trabalhos teóricos. O professor passa a ter o papel de moderador e compartilha autoridade e responsabilidade pelo aprendizado com os estudantes?, explica.

Segundo o professor do mestrado em Educação da PUCPR, Marco Antônio Eleutério, cerca de 25 mil alunos utilizam o Eureka regularmente, tanto como apoio para aulas presenciais quanto em cursos a distância. ?O ambiente virtual estimula mais a interatividade e a co-operação que aulas tradicionais. É uma ferramenta de apoio importante, de comunicação ampla, sem limites temporais ou geográficos?, afirma.

Estratégias educacionais semelhantes são utilizadas na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). De acordo com a professora do Núcleo de Pesquisa em Processos Educacionais Interativos (Nuppei), Iolanda Cortelazzo, tecnologias que permitem a interatividade, como a internet, contribuem para que estudantes trabalhem juntos. Desde a criação do Nuppei, diz ela, foi constatado que não é possível introduzir tecnologias no ensino sem preparar professores. ?É preciso desenvolver uma massa crítica de profissionais habilitados ao uso de tecnologia dentro e fora de sala de aula, pois os alunos estão acostumados somente a receber conhecimentos. Eles não assimilam facilmente a mudança de foco?, adverte.

O ambiente virtual do Laboratório de Tecnologia da Informação e Comunicação na Educação (Labtice) da Tuiuti é utilizado por alguns professores como suporte em suas disciplinas. Iolanda explica que os alunos que trabalham nesse ambiente melhoram sua qualidade de expressão textual, pois sabem que suas produções ficam disponíveis para a leitura na internet.

Como há uma portaria do Ministério da Educação possibilitando até 20% das disciplinas de modo não presencial, afirma Iolanda, a intenção da universidade é que no próximo semestre se possa utilizar esse tipo de modalidade em algumas disciplinas. ?Estamos preparando 60 professores para utilizar mídias como suporte de aprendizagem não presencial?, conta.

Alunos devem construir e modificar

A tecnologia pode ter grande influência na prática pedagógica. O professor Sérgio Scheer, que foi coordenador da Rede Nacional de Pesquisa no Estado, entre 1994 e 2000, e atualmente é diretor do Centro de Estudos de Engenharia Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que na área de softwares para engenharia, novos modelos de aprendizagem pretendem que os alunos não só colaborem, mas também ajudem a construir e a modificar, quando possível, os próprios programas existentes.

?O professor incentiva os alunos a modificarem suas ferramentas educacionais e aplicá-las a situações novas. Problemas de engenharia podem ser abordados sob diferentes perspectivas?, explica Scheer.

Uma outra forma de a tecnologia transformar a prática é contribuir na diminuição de custos de produção de material didático, tanto em atividades presenciais quanto à distância. De acordo com o professor do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE) do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Cefet-PR), Hilton de Azevedo, é com esse objetivo que a partir de novembro começa a funcionar o Laboratório de Tecnologias para a Aprendizagem Humana e Organizacional (Labta), desenvolvido em parceria com a empresa DigitalSK, que irá atender o público externo.

Segundo Azevedo, o laboratório irá utilizar a tecnologia francesa Scenari, fruto de convênio de cooperação com a Universidade de Tecnologia de Compiègne e tem como finalidades pesquisar objetos de aprendizagem, soluções tecnológicas e métodos para qualidade material didático.

O professor explica que o desenvolvimento de materiais para aprendizagem a distância possui geralmente um custo bastante alto. ?A produção de ambientes virtuais pode chegar a ser sete ou oito vezes mais cara que ambientes presenciais?. Segundo ele, os métodos utilizados possibilitam uma fácil adaptação de forma e conteúdo para meios digitais. ?A partir da estrutura de produção que estamos propondo, utilizando modelos, conseguiremos fazer uma redução de custo muito alta?, afirma. (RD)

Três ações diferentes no Paraná

Segundo a presidente do Centro de Excelência em Tecnologia Educacional do Paraná (Cetepar), Elizabete dos Santos, três ações que envolvem uso de tecnologia para o aprendizado estão em diferentes fases de desenvolvimento no Estado: Paraná Digital, com o objetivo de fornecer equipamentos para laboratórios de informática nas escolas; o Portal Dia a Dia Educação, que traz um espaço de aprendizagem colaborativa para educadores; e um canal de TV voltado ao ensino.

O Paraná digital prevê a instalação de laboratórios de informática com conexão de internet em mais de duas mil escolas, com a devida capacitação de pessoal. Cerca de 44 mil computadores, diz Elizabete, foram comprados e devem começar a ser distribuídos para as instituições em outubro. De acordo com a presidente do Cetepar, o projeto está sendo desenvolvido em parceria com a Copel, que vai contribuir com conexão de rede. ?Até julho do próximo ano, pretendemos concluir a instalação e capacitação dos professores para que estejam aptos a exercer sua prática pedagógica nos laboratórios?.

Ao mesmo tempo em que vão sendo implantados os laboratórios, educadores vão sendo capacitados a articular a prática pedagógica em co- operação, dentro do ?ambiente Pedagógico Colaborativo?, um espaço on-line integrado ao Portal Dia a Dia Educação (www.diadiaeducacao.pr.gov.br). Nesse ambiente, podem elaborar conteúdos, relatar experiências, sugerir leituras e encaminhamentos metodológicos, entre outras ações. ?Na rede estadual, o acesso às tecnologias se dá a partir do professor?.

Para Elizabete, as tecnologias precisam ser exploradas de acordo com suas características. ?Enquanto a internet possibilita a interação, a televisão pode provocar interesse em determinados conteúdos e provocar insights?, afirma. Ela explica que o canal de TV deve funcionar para a formação de professores, desenvolvimento de conteúdos e para uso em sala de aulas. ?Deve começar a operar no início do próximo ano, com autonomia de produção, funcionando no mesmo espaço físico da TV Educativa?, conta. (RD)

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