Drogas: uso, dependência e redenção

drogas.jpgAs drogas ditas psicotrópicas ou psicoativas são aquelas que atuam sobre o SNC – Sistema Nervoso Central. Pouco existe na natureza vegetal que o homem já não tenha cheirado, engolido, fumado. É a eterna busca de alívio para as dores ou do simples prazer. Por estas razões o termo ?drogas? é complexo e multidimensional. Misto de remédio e satisfação pessoal. É o balanço nocivo da nicotina (estimulante) e dos hidrocarbonetos cancerígenos do tabaco. É a competição entre o THC (tetrahidrocanabinol) da maconha antiglaucoma e entorpecedor do cérebro. É a luta entre a profunda anestesia da heroína e a destruição do ?ser? de cada um. O delirium tremens ou uma das síndromes da abstinência para um viciado é uma manifestação adiantada deste efeito destruidor, no caso, da mais comum de todas as drogas: o álcool.

Há, em solo africano oeste, uma rubiácea aparentada com o café Tabernanthe iboga (fig. 1) – consagrada há milênios nos ritos tribais.

O extrato das raízes e casca do caule desta planta é capaz de antagonizar e anular a ação de uma série de alcalóides ou compostos orgânicos nitrogenados de intensa bioatividade sobre o cérebro (cocaína, heroína, morfina, dentre outros). Seu princípio ativo é um alcalóide indólico alucinogênico designado de ibogaína. Vantajosamente, não gera dependência química em quem o toma. Logo, ainda mais vantajosamente, pode substituir os longos tratamentos de drogadictos com a sintética metadona, pois uma única dose é suficiente. É bioativa também contra a dependência da nicotina (tabagismo) e do alcoolismo. Há mais de 30 anos de experiência positiva no tratamento à base de ibogaína e Howard Lotsof foi o pioneiro nesta investigação, sendo ele mesmo uma cobaia por se tratar de um heroinômano. Uma grande ajuda é a pré-disposição do paciente ou dependente em deixar o vício. Nos EUA a droga foi inicialmente comercializada com o nome Endabuse e tem provocado querelas enormes nos tribunais e hospitais, pois há o claro interesse da exploração comercial calçado na obtenção de uma patente pelo próprio Lotsof.

O cientista Stanley Glick, do Albany Medical College, esclareceu uma parte importante do mecanismo de ação da ibogaína, pois a injeção desta seguindo à outra da droga-base, morfina, implicou em bloqueio na liberação de dopamina, um neurotransmissor envolvido na geração de sensação de prazer. A partir da observação, os ratos ensaiados parecem perder todo interesse por novas doses de morfina. Os ensaios experimentais prosseguem nos EUA desde 1993 mas o uso da ibogaína ainda segue restrito. Outro alegado é que um centro caribenho, longe destas restrições, oferece a cura total de um drogadicto por um preço até módico, de US$ 12 mil Neurológica e farmacologicamente, a ibogapina é um antagonista nos receptores para do N-metil-D-aspartato (NMDA).

A ibogaína tampouco é um ?mar de rosas? em seus ainda pouco compreendidos efeitos de anti-adicção: causa ataxia (perda da coordenação muscular), náusea, vômito e hipertensão. Além de tremores e alucinações (fato explorado pelos afro-usuários).

Glick tratou de usar sua especialização para criar um análogo da ibogaína que fosse privado de efeitos paralelos alucinogênicos. Sintetizou então a MC-18 (18-metoxi-coronaridina), com sucesso. (v. comparativo da fig. 2).

A luta pelos direitos propriedade intelectual persiste. Enquanto isto aumenta, significativamente, o número de drogados. Lá e aqui.

José Domingos Fontana (jfontana@ufpr.br) é professor emérito da UFPR, pesquisador 1-A do CNPq e 11.º Prêmio Paranaense em C&T (1996).

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