Erva-mate ganha novas aplicações no mercado

A erva-mate, responsável por um dos mais longos e produtivos ciclos econômicos da história paranaense – chegando a representar 85% da economia do Estado, no século XIX -, está voltando a ganhar destaque. E ela não está apenas nos chás e no chimarrão, mas também em xampus, sabonetes, creme para as mãos, para os pés, loções hidratantes.

“A erva-mate tem poder cicatrizante, regenera o tecido, atua contra a gordura localizada, é antioxidante. Acredito, inclusive, que a planta vai ajudar na cura do câncer de pele”, apontou a técnica química Suelene Luci Feltrin.

Há oito anos, a técnica começou a estudar as propriedades da planta – rica em vitaminas e sais minerais – e descobriu vários benefícios da erva-mate, entre eles o poder bactericida. Da parceria com o laboratório Heide, que apostou na idéia, surgiu o extrato da erva-mate, que mais tarde se transformaria na matéria-prima da linha de cosméticos EssenciAll Brasil.

“Em 2002, eram dez produtos. Hoje são 23 e já estamos com projeto para mais três linhas, com pelo menos cinco produtos cada: uma específica para homens, outra pós-parto e a terceira de tratamento facial”, revelou Suelene, sócia-proprietária da EssenciAll, uma pequena empresa com loja no centro de Curitiba e fábrica em São José dos Pinhais, que utiliza o sistema de vendas porta-a-porta.

“Um produto novo, desconhecido, não se vende nunca em prateleira. Nas farmácias, lojas de departamento, as vendedoras não vão ficar explicando os benefícios”, apontou. Por enquanto, a empresa conta com 20 vendedoras, mas a intenção, segundo Suelene, é chegar a mil até o final deste ano. “Estamos buscando vendedoras”, anunciou.

Sobre a produção, a técnica química disse que ainda é pequena. “Mas estamos crescendo 30% ao mês”, ponderou. O faturamento previsto para este ano é de R$ 500 mil – os preços dos produtos variam de R$ 11,20 (sabonete em barra) a R$ 29,80 (óleo bifásico).

Além de Curitiba, os produtos à base de erva-mate estão também no Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e em parte de São Paulo. Logo, a erva-mate em forma de cosméticos estará ganhando o mundo. “Fechamos contrato para exportar para a Espanha quatro produtos: loção corporal, xampu, sabonete líquido corporal e em barra”, contou.

Até a empresa alcançar este estágio, porém, não foi fácil. “Não tínhamos certificação européia. Para registrar a marca lá fora também é caro: entre R$ 6 mil e R$ 7 mil por país”, disse, acrescentando que todo o processo para exportar para a Espanha já dura dois anos.

“Agora, estamos desenvolvendo as embalagens e frascos específicos para eles.” Segundo ela, Portugal, Angola e Alemanha serão os próximos a receber os produtos paranaenses. “A gente também quer divulgar os benefícios da erva-mate no Brasil. As regiões Norte e Nordeste, por exemplo, não conhecem a planta. É como perguntar para nós, do Sul, o que é andiroba”, comparou.

Paraná deve colher mais de 300 mil toneladas

Maior produtor brasileiro de erva-mate, o Paraná deve colher este ano pelo menos 300 mil toneladas da planta, segundo previsão do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab). A quantidade é superior à safra passada, quando foram colhidas 285 mil toneladas.

No Paraná, a colheita começou em maio e termina no mês que vem. Parte da produção (cerca de 30 mil toneladas) é destinada à exportação; indústrias de chimarrão de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul também compram quantidade significativa.

“A demanda vem crescendo muito. A Coca-Cola (que comprou a Leão Junior no ano passado) entrou no mercado com a proposta de realizar pesquisas e desenvolvimento e isso é muito, positivo”, apontou a técnica do Deral, Neusa Gomes de Almeida. Segundo ela, depois do período de estabilidade – início da década de 90 até 2002 -, o consumo voltou a crescer. “O consumidor procura qualidade. E a erva-mate vem sendo cada vez mais valorizada como alimento funcional”, explica.

A procura por sementes e mudas também cresceu. Em 2006, segundo Neusa, foram fornecidas cerca de 917 mil, no Paraná. No ano passado, o número quadriplicou, passando para 4,3 milhões. “É um bom sinal. Mostra que o mercado está aquecido.” Em termos de preços, também não há o que reclamar. “Nunca pagaram tanto”, disse Neusa.

A arroba (15 quilos) da erva-mate em barranco está custando cerca de R$ 7,00. Um ano atrás, o preço médio era R$ 4,50. No Paraná, a produção da erva-mate se concentra no centro-sul, especialmente nas regiões de União da Vitória, São Mateus do Sul, Pato Branco, Cascavel, Irati.

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