O dedo no dólar

Um dia depois de ter declarado sua preocupação com a baixa do dólar em relação à nossa moeda, em desalento, a alguns companheiros exportadores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recompôs e tentou desdizer o que tinha dito. “O governo não vai meter o dedo na questão do dólar”, afirmou ele ao inaugurar a termoelétrica da Companhia Energética Santa Elisa, na localidade de Sertãozinho, São Paulo. E completou ensinando que o papel do governo é afirmar a todo e qualquer momento que a lógica nossa é de que o dólar vai continuar flutuante e quem determina o seu preço é o mercado.

De hoje em diante, portanto, quem quiser “brincar” com esse assunto já sabe a lição de casa. Nem o ministro Luís Fernando Furlan – o caixeiro-viajante de Lula em busca de novos negócios e mercados – nem o líder do PT no Congresso e no Senado, Aloízio Mercadante, têm representação do governo para colocar limites no valor da moeda americana, cujo “patamar ideal” não é aquele vislumbrado pelos que exportam, e portanto o querem o mais alto possível, nem pelos que importam e, naturalmente, quanto mais baixo melhor.

Lula aprendeu isso em poucas horas. Sua primeira declaração disparou alarmes e instabilidades como se fosse um terremoto. Não tanto pelo que ele apenas insinuou, mas principalmente porque sua manifesta preocupação com os exportadores significava a vitória de uma das forças que se debatem dentro de seu governo já faz muito, e das quais podem ser eleitos representantes visíveis o ministro Antônio Palocci, de um lado, e Furlan e Mercadante, de outro. Venceram, pelo menos por enquanto, os que não temem a volatilidade do mercado nem as sacanagens da especulação desenfreada. Contra alguns críticos de plantão e outros negocistas de ocasião, o dólar vai oscilar de acordo com as circunstâncias, que ninguém sabe exatamente quais são. Podem ser internas, podem ser externas, podem ser as duas ou nenhuma delas, apenas circunstâncias…

A verdade é que o valor da nossa moeda frente àquela americana ainda não recuperou os índices que antecederam o início da campanha eleitoral que levou Lula ao Planalto, há mais de um ano. E isso não aconteceu sem efeitos colaterais – dos preços do transporte aos das tarifas de luz, água e telefone – prejudiciais para todos quantos dependem exclusivamente do real. Não apenas os que importam ou que exportam lucram ou perdem com a ciranda financeira, antes exorcizada pelas lideranças do PT, que fincavam discurso na necessidade de incentivo à produção em vez de dar bolas à especulação dos mercados.

Estamos combinados, então, que não vai haver intervenção de espécie alguma e que nosso grande negócio será perseguir uma estabilidade econômica baseada em outros pilares, em que todos quantos queiram produzir tenham a tranqüilidade necessária para o trabalho. Inclusive o trabalho de importar e exportar. Isso significa também – pelo menos segundo se ouve sem contestação – a criação de pressupostos para a queda dos juros, hoje na estratosfera, que inviabilizam a retomada de nosso crescimento e a geração prometida de nova onda de ofertas de emprego. Significa, igualmente, que não devem prosperar os argumentos inflacionários que corroem nosso salário, já minguado e pouco convincente. Significa, antes de mais nada, que o próprio governo não haverá de alterar tarifas de serviços que, embora terceirizados, são por ele administrados contra o bolso dos contribuintes. Seria, então, o início do paraíso prometido?

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