Dia Nacional

Adoção de crianças: o direito de ser filho

Dia 25 de maio é comemorado por Lei o Dia Nacional da Adoção. Mas o que significa de fato adotar alguém? Em todos os tempos sempre existiram mulheres que abandonam ou entregam os seus filhos e pessoas que criam, educam, amam e reconhecem como filhos crianças cujos genes não compartilham.

Embora o tema esteja mais visível recentemente pelas adoções realizadas por celebridades, a humanidade sempre criou diversos arranjos sociais para o estabelecimento de outros tipos de dinâmicas familiares que não aquelas embasadas nos “laços de sangue”.

Normas sobre adoção foram identificadas desde a Antiguidade, no Egito, China, Grécia, Índia e Roma e o mais remoto registro encontrado data de 1.800 a.C, chamado de Código de Hammurabi, leis talhadas em rocha em um monumento monolítico que se encontra no Museu do Louvre, Paris. Pode-se dizer que em todas as épocas históricas e civilizações houve práticas de adoção.

No entanto, as regulamentações sobre a adoção têm sofrido mudanças intensas ao longo da História. Antigamente privilegiava-se basicamente os adultos e não a criança. Os historiadores argumentam que adoção divide-se em dois momentos históricos: Adoção Clássica, anterior à Primeira Guerra Mundial, era aquela que visava solucionar os matrimônios sem filhos, e Adoção Moderna, que buscou resolver os problemas dos numerosos órfãos cujos pais biológicos morreram em virtude das Guerras.

Atualmente a adoção é considerada como a melhor maneira para proteger e integrar uma criança em uma nova família e podemos dizer que atualmente estamos em um momento de Adoção Pós-moderna, a qual compreende que não se deve apenas esperar que candidatos à adoção apareçam, mas fazer uma busca ativa de adotantes e prepará-los para as tantas e diversas crianças que crescem em abrigos.

Uma pessoa não deve adotar apenas por “pena”, ela deve, em primeiro lugar, desejar muito ter um filho. Porém, adotar também tem um sentido social: o direito de todas as crianças de viverem em família e em comunidade, como diz a nossa Lei, o Estatuto da Criança de 1990. No Brasil existem milhares de crianças que moram longos anos em abrigos, crianças esquecidas pelas famílias, pela sociedade, pelos órgãos competentes que deveriam cuidar delas.

No Brasil existe um fenômeno único de criação de Grupos de Apoio à Adoção, atualmente mais de 150. São esses Grupos, formados geralmente por voluntários que fazem parte de famílias por adoção, que veiculam o tema, desmistificam preconceitos, colocam suas vidas a público, e batalham para que todas as crianças cresçam em famílias. Os países desenvolvidos basicamente não tem mais instituições para crianças, pois já está mais do que comprovado pela ciência que este é um modelo fracassado para o desenvolvimento global saudável.

Muitas vezes as pessoas dizem que é melhor uma criança em um abrigo do que na rua. Este é um pensamento enganoso e perverso. Uma criança não deve estar nem na rua e nem no abrigo e sabemos da gigantesca desigualdade social existe no Brasil. Para ter uma socialização e desenvolvimento saudável uma criança precisa viver em uma família que se comprometa, que a proteja, cuide e ame. Todos os poderes deste nosso país, assim como toda a comunidade, eu e você, devemos fazer o possível para cuidar da família. De todas as famílias.

E lembre-se, adotar uma criança é apenas um procedimento, depois da adoção esta criança torna-se “filha” e ponto final. Os filhos por adoção são tão verdadeiros quanto aqueles gerados biologicamente. Adotar é simplesmente transformar uma criança em filha. Às vezes os adotantes têm receio de não conseguirem amar ou serem amados por uma criança que não tem o mesmo sangue.

Isso é um mito amplamente desmentido pelas pesquisas que asseguram que vínculo afetivo n&at,ilde;o depende de genes ou de semelhança, mas de uma construção que ocorre no dia-a-dia. Amor não vem gratuitamente. Amor deve ser construído.

Reclamamos tantas vezes das nossas famílias, mas você já parou para pensar em quem não tem ninguém para chamar de família? Em uma das muitas visitas que fiz a instituições perguntei a Maria, 7 anos, qual seria o seu maior desejo, o maior presente que ela poderia ganhar. Maria respondeu: “Uma família”. Depois de alguns segundos, pensativa, ela completou: “Eu só queria alguém que me chamasse de filha”.

Lidia Weber / Foto: Arquivo pessoal

Lidia Dobrianskyj Weber é Psicóloga, doutora em Psicologia pela USP com pós-doutorado em Desenvolvimento Familiar pela UnB, professora da UFPR, autora de 13 livros, entre eles “Eduque com Carinho” (Ed. Juruá, 16a. tiragem)