Magreza perigosa

Caquexia é a causa de morte de muitos pacientes com câncer

Câncer é o conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos. Estas células, bastante agressivas, dividem-se rapidamente e formam tumores malignos, que podem se instalar e se espalhar para várias regiões do corpo. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), entre 2014 e 2015, teremos cerca de 576 mil novos casos de câncer no Brasil. E, infelizmente, muitos destes doentes poderão ter dificuldades em vencer a esta batalha pela vida.

Mas o que muita gente desconhece é que parte das mortes em consequência do câncer não são causadas diretamente pelos tumores e, sim, por um desdobramento desta temida doença: a caquexia, o emagrecimento profundo do paciente provocado pelo câncer. De acordo com pesquisas da divisão nutricional da farmacêutica Abbott Brasil, um em cada cinco pacientes morre devido à caquexia. O mesmo estudo ainda revela que a perda de peso induzida pelo câncer é evidente em até 87% dos pacientes, dependendo do tipo de tumor.

Sobre a pouco conhecida síndrome da anorexia-caquexia (SAC), o médico oncologista do Departamento de Oncologia Clínica do Instituto de Oncologia do Paraná (IOP) Luciano Biela esclarece que ela é uma complicação frequente no paciente com neoplasia maligna em estado avançado. Segundo ele, a caquexia caracteriza-se por um intenso consumo dos tecidos muscular e adiposo, com consequente perda involuntária de peso, além de anemia, astenia (fraqueza), fadiga e perda de performance clínica.

De causas multifatoriais, a caquexia neoplásica quase sempre está ligada à condição avançada da doença em sua fase terminal. “Estima-se que cerca de 66% dos pacientes em fase terminal evolua para caquexia neoplásica. A SAC pode ser provocada pelo aumento do consumo energético pelo tumor, pela liberação de fatores que agem no centro da saciedade, diminuindo o consumo alimentar, e pelas citocinas produzidas pelo hospedeiro e pelo tumor, que levam às anormalidades metabólicas características da síndrome”, explica.

E a caquexia pode ser classificada como primária ou secundária. A primária está relacionada às consequências metabólicas da presença do tumor, associada a alterações inflamatórias. “Ela resulta em consumo progressivo, frequente e irreversível de proteína visceral, musculatura esquelética e tecido adiposo”. E a secundária é resultante da diminuição na ingestão e absorção de nutrientes por obstruções tumorais do trato gastrointestinal, anorexia por efeito do tratamento e ressecções intestinais maciças. De acordo com o oncologista, as duas condições podem aparecer em um mesmo indivíduo.

O médico ainda ressalva que nem todo o paciente desenvolve a caquexia, sendo ela mais frequente em idosos, crianças e em pessoas os tumores gastrointestinais, tumores de vias biliares e de cabeça e pescoço. Para amenizar a doença, Biela lembra que o acompanhamento de nutricionistas é fundamental. “O tratamento da SAC é multifatorial, envolvendo o uso de medicamentos estimulantes de apetites, reposição nutricional com suplementos, reposição hormonal e acompanhamento psicológico”.

Acompanhamento nutricional

A nutricionista Regina Vilela explica que o paciente com câncer precisa de uma avaliação criteriosa e um atendimento nutricional especializado. Assim, é possível definir a dieta que pode auxiliar na resposta imunológica do paciente e também na preservação da musculatura. “O nutricionista sempre observa todos os aspectos dos pacientes: idade, sexo, composição corporal, metabolismo da doença, alterações gastrointestinais, presença de outras doenças que exigem cuidado nutricional, como hipertensão, diabetes, medicação, além ,da condição socioeconômica e os hábitos e a cultura alimentar do mesmo”.

Segundo ela, na caquexia, além das mudanças no metabolismo, a falta de apetite e os efeitos da medicação, podem provocar uma diminuição no consumo de nutrientes. “Estes fatores associados fazem com que o nutricionista tenha que orientar várias estratégias como suplementos proteicos, horários de refeições longe dos períodos em que as náuseas podem surgir como resultado da quimioterapia, troca de talheres de metal por de plástico, adoção de pequenas refeições não muito quentes ou muito geladas, evitar consumir líquidos com as refeições e a modificação na consistência dos alimentos, para concentrar mais calorias em pequenas porções. Nos casos de desnutrição mais grave ou quando o paciente faz uma cirurgia que o impede de se alimentar, pode ser necessário utilizar nutrição enteral por meio de sondas”.