Como amenizar a dor?

Família e religião ajudam a passar pelo processo de luto

Lidar com a morte de uma pessoa querida, seja ela um parente, amigo ou alguém que estimamos é uma das situações mais difíceis pela qual podemos passar. Seja por meio de um longo processo que envolva uma doença, pela morte natural ou ainda nos casos mais chocantes provocados por acidentes ou pela violência, o fato é que a sensação de perda, saudade, tristeza e vazio acompanha quem fica, em um período conhecido como luto.

A morte afeta todas as pessoas, mas cada uma reage a ela de forma diferente. Para muitas, o problema é que a falta e saudade de quem partiu pode doer tanto, que superar o luto pode se tornar algo extremamente difícil. No entanto, apesar do sofrimento vivido, especialistas recomendam não ignorar esta fase.

A psicóloga Thereza D’Espíndula ressalta que é fundamental passar por um período de luto quando perdemos alguém que amamos. “O luto é necessário para ultrapassar um período de perda. Esconder o luto ou partir para uma fuga não é saudável. Evitar o luto pode provocar um luto tardio ainda mais difícil de ser superado” diz. Ela observa que cada pessoa tem um jeito de lidar com o luto, algumas buscam apoio na religião, outras em grupos de ajuda e com psicólogos, e ainda há aquelas que tendem a querer ficar sozinhas, o que não é recomendado, especialmente, se o isolamento for constante.

Neste momento difícil, outra atitude não indicada pela psicóloga é o uso indiscriminado de calmantes e outros medicamentos. “A medicação às vezes não deixa a pessoa vivenciar este ritual de passagem, composto pelo velório e enterro. Esta medicação deve ser feita absolutamente quando necessário, para que a pessoa vivencie a despedida e possa ser confortada por seus amigos e familiares”, orienta.

Transformando a dor

Há 20 anos Zelinda de Bona enfrentou uma imensa dor ao perder seu neto Saulo, que tinha 14 anos e morreu vítima de um atropelamento. A morte traumática e inesperada trouxe muito sofrimento a ela e sua família. Mas ao invés de se fechar em sua tristeza, Zelinda buscou ajuda em um grupo de apoio: o Grupo Amigos Solidários na Dor do Luto, que hoje é coordenado por ela. 

Apoiado pelo setor de Psicologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o grupo se reúne uma vez por semana no prédio da universidade, na Praça Santos Andrade. “O luto é a dor da alma e este período tem várias fases que vão do choque, negação, revolta, questionamento e por fim aceitação. As pessoas não estão preparadas para a morte e quando um filho se vai ou nos deparamos com uma morte violenta, o sofrimento é maior ainda”, observa.
Zelinda conta que no grupo encontrou apoio e compreensão. Hoje, ela e suas companheiras oferecem este acolhimento a quem partilha da tristeza pelo luto. “Com o grupo, acolhemos quem passa por este momento, restaurando as pessoas, para que elas percebam que não estão sozinhas e assim, possam aos poucos retomar suas vidas. Temos que trocar o sofrimento pela ausência e aprender a lidar com ela”.

Consolo na fé

Uma das formas de encontrar paz e aceitação para superar o luto é buscar apoio na fé, independente da religião seguida. Para o Frei Alvadi Marmentini, do Santuário São Leopoldo, da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), contar com o apoio de amigos e de pessoas queridas é muito importante, mas, além deles, a fé em Deus e pode ajudar as pessoas.

Para confortar quem sofre, o Frei costuma lembrar que segundo a Igreja Católica, quem morre está em uma dimensão espiritual melhor. “A pessoa que morreu está bem, feliz e continua nos amando. Ela está junto de Deus e pode ser um anjo de luz que ilumina nossa vida. E um dia devemos nos encontrar com ela”, afirma ele que ressalta que “quem está de luto não deve perder a vontade de viver”. “A pessoa não deve ser só os sofrimentos, deve ver a alegria e encontrar uma motivação ,para sua vida”.

A coordenadora de Comunicação Social da Federação Espírita do Paraná, Maria Helena Marcon, considera a separação de um ente querido pelo fenômeno da morte uma das mais profundas dores do mundo. Em sua avaliação, isso acontece porque o conceito de imortalidade, de que podemos reencarnar diversas vezes em vários planos espirituais, ainda não se afigura para grande parte da humanidade. 

“É natural a saudade, pela ausência da presença física de quem partiu, no rumo da pátria espiritual. Entretanto, considerando que não estamos dizendo adeus, mas somente um até breve, o momento dessa separação é entendido como um partir antes. E, sempre se farão os reencontros, durante os períodos de emancipação da alma, durante o sono físico, e que se nos apresentarão como os sonhos”.

Já para o pastor da Igreja Evangélica Pentecostal Fonte da Vida, Gerson Aparecido Vale, o luto e a morte são situações naturais da vida, pelas quais todos vamos passar. “Para nós cristãos, evangélicos, há uma certeza, a de que temos uma segunda vida após a morte. Na terra temos um período passageiro e vamos dar conta do que fizemos aqui”.

A religião acredita que, ao morrer, temos dois destinos principais: o céu ou o inferno. “Para onde vamos dependerá de nossa fé e das nossas ações. Nós entendemos que o luto é uma situação difícil, mas temos a esperança de uma vida ao lado de Cristo depois da morte. Isto e a certeza que um dia vamos nos encontrar, conforta a família cristã”.