Sem se estressar!

Esgotamento é maior no final do ano com a pressão e ‘metas’

Fim de ano é época de festas, mas também é neste período que as pessoas costumam ficar mais estressadas. Já vivemos em um mundo altamente competitivo e com enorme quantidade de tarefas que precisam ser executadas diariamente, mas, em dezembro, para poder encerrar tudo o que deveria ter sido concluído durante o ano, o trabalho e a pressão aumentam ainda mais. Esta mistura de ansiedade e cobrança pode trazer impactos para a saúde física e emocional dos profissionais. E o resultado pode ser pessoas extremamente cansadas ou até mesmo com problemas mais sérios, como a Síndrome de Burnout, a doença do esgotamento profissional.

De acordo com o psiquiatra da Unidade Intermediária de Crise e Apoio à Vida (Uniica) Gabriel Monich Jorge, a Síndrome de Burnout é um processo que se inicia com a tensão no trabalho, podendo levar o profissional a uma condição crônica de estresse e ao esgotamento físico e mental, que, se não for diagnosticada corretamente, pode ser confundido com doenças como a depressão. No entanto, para o médico, a síndrome diferencia-se da depressão, por estar diretamente atrelada ao trabalho e não a outras questões da vida do profissional.

Segundo especialistas, a Síndrome de Burnout acontece quando já foi exigido tudo o que o corpo e a mente poderiam suportar. Ela afeta principalmente os profissionais que são submetidos diariamente a momentos de muita tensão, como médicos, bombeiros, policiais, trabalhadores da área da educação, saúde, recursos humanos. Também têm maior propensão a desenvolver a síndrome quem tem baixa autoestima ou dificuldade nos relacionamentos interpessoais.

Entre os sintomas mais frequentes da síndrome, estão a ansiedade, tristeza, indiferença, agressividade, isolamento, mudanças de humor, dificuldade de concentração, problemas de memória, baixa autoestima, distanciamento afetivo e desinteresse pelo trabalho. Sob o aspecto físico, dores de cabeça, problemas gastrointestinais, palpitação, aumento na pressão arterial, insônia e no caso das mulheres, com alterações no ciclo menstrual. “O quadro pode ficar tão sério que alguns pacientes com Burnout passam a utilizar álcool e drogas para aliviar as dores e as tensões, o que os leva a dependência e até a tentativas de suicídio”, diz Jorge.

Para reverter este quadro, a orientação é que o paciente busque ajuda com um médico psiquiatra, que fará o diagnóstico e poderá receitar medicamentos, além de, se necessário, encaminhá-lo para a terapia com um psicólogo. O tratamento com os especialistas ainda deverá contar com a força de vontade e inciativa do paciente, para que ele consiga mudar seu estilo de vida e maneira com que lida com o trabalho.

Sentindo na pele o cansaço do ano todo

A diretora financeira da Clínica Dental Esthetic Center Carolina Marcondes, de 34 anos, sabe bem como este desgaste pode ser doloroso. Há poucos dias, ela foi diagnosticada com uma alergia, uma urticária causada justamente pelo estresse. “Eu vinha de um desgaste normal ao longo do ano, mas ultimamente venho me sentindo muito estressada e desenvolvi esta alergia. Fui ao médico, pensando que fosse uma reação a algum alimento, mas ele confirmou que é de fundo emocional. Agora estou trabalhando sob efeito de remédios antialérgicos e fui aconselhada a tirar o pé do acelerador”, conta.

Para ela, o fim de ano contribui com o aumento da tensão entre as pessoas. “Há uma ‘neura’ do fim de ano, parece que o mundo vai acabar. As pessoas querem resultados rápidos e nem sempre isso é possível”. Para mudar esta situação, ela pretende agir diferente em 2015. “Decidi que não quero mais viver assim, quero me programar em 2015 para não deixar pendências para o fim do ano. Quero ter mais qualidade de vida” diz Carolina.

Segundo a coach Luciane Botto, os desafios e a pressão fazem parte da rotina organizacional, sendo necessário fazer mais com meno,s, cada vez melhor e no menor tempo possível. Mas, apesar da pressão, ela lembra que devemos ter consciência de que o que vale é o nosso equilíbrio interno. Para ter mais qualidade de vida, ela explica que é preciso buscar este equilíbrio, mudando nosso estilo de vida, se for preciso.

“Alcançar e manter o equilíbrio pode ser a nossa grande meta. Percebo que há um grande número de pessoas extremamente ansiosas, que trabalham demais, são sedentárias, alimentam-se mal e dormem pouco. Isso tudo vira um hábito e torna-se um estilo de vida. Desta forma, o corpo e o cérebro não vão trabalhar com todo seu potencial. Tomar consciência de que esse estilo de vida é estressante é pensar nas consequências em termos de saúde, qualidade de relações e construção de sua felicidade. Não é para sair da empresa ou ter menos desafios, mas para aprender a lidar com eles e desenvolver cada vez mais resiliência”, diz Luciane.