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Homens têm participado mais do nascimento dos filhos

A gestação de um filho é um dos momentos mais especiais na vida de um casal. Durante meses, eles se preparam para a chegada do bebê e é na hora do parto que acontece o auge deste período tão importante. É quando efetivamente eles se tornam pai e mãe. É claro que as mães se familiarizam com a novidade com uma maior facilidade, afinal, a criança está sendo gerada na sua barriga, mas os pais não precisam ser meros coadjuvantes nesta história.

O designer de interiores Raul Fuganti, de 31 anos, é um exemplo de homem que entende bem de gravidez e partos. Pai de Beatriz, de três anos, Rudá, um e meio, e Anita, de apenas 50 dias, ele acompanhou de perto o nascimento dos filhos. Beatriz, a mais velha nasceu em um hospital por meio de uma cesariana, mas os caçulas nasceram em casa de parto natural, por escolha dos pais.

“O nascimento da Beatriz foi mais traumático, planejamos um parto natural que não pôde ser realizado pela posição em que minha filha se encontrava, assim, tivemos que optar pela cesárea. Quis ficar com minha esposa durante o parto, mas não fui autorizado. Estas mudanças de última hora foram difíceis para nós. Já com o Rudá e com a Anita foi tudo mais tranquilo, como nós queríamos, no aconchego da nossa casa, não tivemos interferências e nem precisamos nos deslocar para o hospital”, diz o pai.

Segundo ele, mesmo envolvido com a gestação, o homem só tem certeza de que é pai no momento em que o primeiro filho nasce. “Nós podemos participar de tudo, ver a barriga crescer, sentir o filho chutar e acompanhar todas as etapas da gravidez, mas é quando pegamos nosso filho no colo, logo após o nascimento, que a ficha cai. Nesta hora, você sabe que é pai, que sua vida e sua família mudaram”.

Doula e educadora materno-infantil da Casa Mãe, a esposa de Fuganti, Nitiananda Fuganti, acompanha a gestação, parto e pós-parto de muitos casais, presenciando os sentimentos vividos pelos homens em relação à paternidade. “O parto é um evento da família e não um acontecimento médico, os pais devem estar incluídos. Eles podem participar de todo o processo, não sendo apenas expectadores. O momento do parto é transformador, o pai que presencia o nascimento cria um vínculo mais rápido e fortalecido com o filho. Muitos ficam meio perdidos, outros agem como que por instinto, mas todos se emocionam”, relata.

Participação paterna deve vir desde o começo

Para a psicóloga Márcia Dallagrana, a gravidez é um período de intensas transformações físicas, psicológicas e sociais na vida da mulher grávida e de grande envolvimento do futuro pai. “Atualmente, os pais participam das aprendizagens e mudanças desta fase, vão às consultas e à preparação para o parto, ajudam a escolher o enxoval, assistem às ecografias e ao nascimento do filho. No início da gravidez, eles podem não perceber o bebê e seus movimentos, mas sentem-se pais a partir dos sentimentos e sensações da mulher, envolvendo-se e identificando-se com ela. Muitos podem apresentar inclusive enjoos e a sensação de estarem grávidos”.

Segundo ela, durante a gravidez, os homens buscam estabelecer vínculos com o bebê, imaginando como ele será. Até o parto, com o evoluir da gestação eles vão se “dando conta” e desenvolvendo a ideia de ser pai. “O momento do parto não é apenas o final da gravidez, mas é também o início real e concreto da paternidade.

Os primeiros minutos e horas depois do parto são importantes para o desenvolvimento do papel de mãe e de pai. Nesse momento, ambos são capazes de sentir que o filho realmente lhes pertence e vice-versa, ocorrendo a estruturação de laços afetivos”.

Depoimento

Fui pai pela primeira vez há pouco mais de dois meses. Fernanda ch,egou no dia 10 de setembro e, de lá pra cá, modificou completamente a vida lá em casa. Mas, na verdade tudo mudou em janeiro, quando Fran e eu descobrimos que seríamos pais.

Como pai e objeto quase obsoleto dentro de todo o processo de gestação, resolvi tomar iniciativa e tentar participar de quase tudo que envolvia a nova fase. Estive em todas as consultas e ecografias que pude. Fiz questão de ajudar de maneira mais enérgica com as tarefas de casa. Resolvi me aproximar intelectualmente do bebê, conversando e até tocando violão para a barriga. Também estava junto quando compramos o berço e todos os outros aparatos para o quarto da Nanda.
Isso tudo foi importante. Me senti pai antes de a Fernanda nascer. Sentir essa responsabilidade foi fundamental para me preparar para viver o que eu vivo hoje, com a Nanda já em casa.

Parto

As coisas estavam calmas até o momento em que me chamaram para acompanhar o nascimento. Entrei nervoso no centro cirúrgico. Não por medo de ser pai ou da responsabilidade que viria pela frente, mas sim por querer que tudo desse certo.

Entrei na sala de cirurgia e fui direcionado pra me sentar ao lado da minha esposa. Ali vi como é importante o pai estar junto no parto. A impressão que eu tive foi a de que eu passei segurança pra Fran, coisa que ela me confirmou horas depois.

Em seguida, mergulhei de cabeça no momento. Vi, filmei e fotografei a Fernanda chegando ao mundo. É emocionante. Foi, disparado, o momento mais feliz da minha vida. Aconselho até o meu pior inimigo a passar por essa experiência.

Eduardo Santana é repórter da Tribuna e escreve para a editoria DiaDia