Tal mãe tal filha

Mulheres também passam nomes de geração para geração

João Junior, Pedro Filho e Francisco Neto são alguns exemplos de algo muito comum em nossa sociedade: a homenagem que os casais prestam quando colocam em seus filhos os mesmos nomes de seus pais, avós e tios. Mas, apesar de esta tradição familiar ser popular em todo o Brasil, ela é quase exclusiva dos homens, sendo difícil encontrar uma mulher que tenha, em sua certidão de nascimento, o mesmo nome de alguma ancestral mais próxima ou querida pela família.

No Brasil, segundo dados da ProScore Bureau de Informação e Análise de Crédito, Hosting e Soluções Customizadas, dos cerca de 180 milhões de CPFs cadastrados pela empresa em todo o país, apenas 243 deles são de homônimos entre mães e filhas. Ainda de acordo com a empresa, são apenas algumas centenas os casos em que as mães batizam suas filhas com o próprio nome, acrescentando o sufixo filha ou segunda.
Já no Paraná, segundo a Associação dos Notários e Registradores do Estado do Paraná (Anoreg-PR), registros de nascimento e de óbito de cartórios de todo o estado mostram que, da década de 1980 para cá, apenas 186 mulheres possuíam todo ou ao menos o primeiro nome exatamente igual ao de suas mães, sendo Maria o mais comum, com 83 registros.

Aqui em Curitiba, encontramos um destes casos tão singulares na casa da professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Elza Aparecida Oliveira Filha, de 59 anos, que recebeu exatamente o mesmo nome de sua mãe, em uma homenagem prestada por seu pai à esposa, em função das muitas dificuldades passadas por ela todas as vezes em que engravidou.

“Sou a caçula de três filhas e minha mãe que, na época, morava no interior de Minas Gerais, em todas as suas gestações, passou por complicações, tendo, inclusive, perdido alguns filhos por um problema de saúde que dificultava o parto das crianças. Assim, com muito esforço, ela conseguiu dar a luz à Maria Aparecida, minha irmã mais velha e, anos mais tarde, a mim e minha irmã Maria das Graças”.

Elza Filha conta que, em seu parto, ela e a mãe correram risco de morte, tendo o médico, inclusive, feito ao seu pai a temida pergunta: “Devo salvar sua esposa ou o bebê?”. Assim, depois de todo este sofrimento, ele sabia que a terceira filha provavelmente seria a última. “Meu pai e minha mãe tinham escolhido para mim o nome de Sueli. Mas ao voltar do cartório, meu pai chegou com a certidão, com meu nome registrado igualzinho ao da minha mãe. Ele fez isto de surpresa, como homenagem e declaração à minha mãe. Neste dia, ele disse a ela: ‘É a última, tem que ter o seu nome’”, relata.

Um nome de família

Matriarca de uma família grande e unida, a dona de casa Elza Aparecida Oliveira, de 87 anos, conta que este nome sempre esteve muito ligado à história das mulheres de sua família. “Um de meus irmãos se casou com uma moça chamada Elza. Juntos, eles tiveram dez filhos e todos eles homenagearam sua mãe colocando em uma das filhas o nome de Elza. Assim, além de mim e da minha filha, há mais de uma dezena de Elzas na família. Além delas, o médico que fez meu último parto, que também é o padrinho da Elzinha, é casado com uma Elza”.
Elza Filha lembra que, durante sua infância e juventude, nunca passou por problemas ou confusões, por ter o mesmo nome que a mãe, afinal, em sua família ela era a Elzinha e sua mãe, a Dona Elza. Já no ambiente profissional, esta característica nunca interferiu ou influenciou de alguma forma sua carreira. E, apesar de estar casada há quase 40 anos, Elza nunca alterou seu nome. “Fui me dar conta da particularidade de meu nome quando já estava na faculdade. Nesta época, entendi a importância desta homenagem feita por meu pai. Assim, quando me casei, já estava convencida de que era importante mantê-lo desta forma”.
Hoje, com a mãe passando por um tratamento de saúde q,ue exige acompanhamento da família, as duas Elzas moram juntas novamente. E elas contam que, às vezes, acontece de algumas pessoas ficarem em dúvida com qual Elza desejam falar, principalmente quando ligam para o telefone da residência. “Mas isto se resolve facilmente, quem atende sempre pergunta se a pessoa que está ligando quer falar com a Elza mãe ou com a Elza filha e logo a questão é resolvida”, conta a filha.

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