Apesar da pressão

Cada casal deve ter o seu momento para pensar em filhos

Em nossa sociedade, é assim: quando um casal começa a namorar logo vêm as perguntas sobre quando será o casamento. Eles, então, decidem se casar, mas os questionamentos dos amigos e da família não param por aí. Depois de casados, principalmente com o passar dos anos, precisam lidar com as cobranças para terem o primeiro filho e assim por diante. São cobranças intermináveis que, apesar de parecerem inocentes, podem causar desconforto e constrangimentos entre os casais, seus parentes e amigos.

Casada há 12 anos, a empresária Vanessa Souza Oliveira, 31 anos, tem uma relação sólida e feliz com seu marido. Mas, com alguns amigos e parentes, ela às vezes perde a paciência. O motivo são as cobranças constantes para que eles tenham um filho. “Eu me incomodo porque as pessoas são indelicadas, perguntam e nos julgam sem saber os motivos de nossas decisões. Quando alguém toca no assunto, às vezes falo apenas que não quero ter filhos no momento, para não ter que ficar me justificando sobre o assunto”.

Segundo ela, a cobrança é maior por parte dos parentes mais distantes e dos amigos que já têm filhos. “Os tios, tias, primas e outros familiares tocam no assunto em todas as festas de família. Nestas ocasiões, eles chegam a colocar a mão em minha barriga e perguntam quando vem o bebê. Outra coisa que sempre acontece são as comparações, principalmente com outras primas que, apesar de mais jovens, já têm um ou mais filhos”.

Vanessa conta que logo nos primeiros anos de casamento tentou ter um bebê, mas, na época, o projeto não foi adiante por ela estar com cistos nos ovários. Logo depois, em função de outras atividades relacionadas a projetos de trabalho e estudo, ela decidiu adiar os planos de ser mãe. “Tentei engravidar quando completamos três anos de casados, mas, como não aconteceu, foquei em outras prioridades e segui com minha vida. Fiz cursos, mudei de profissão, viajei bastante com meu marido e optei por ter um filho mais tarde”.

Hoje, ela acredita que o momento ideal está bem próximo, principalmente em função da estabilidade profissional conquistada pelo casal após a aquisição e estruturação da loja de som da família. “A chegada de um filho agora serviria para me unir ainda  mais ao meu marido. Temos uma relação ótima, somos muito companheiros. Se tudo der certo, planejo engravidar até o fim de 2014”.

Sonho adiado

Outra mulher que ainda não decidiu engravidar é a cantora de sertanejo universitário Fernanda Liz, 27 anos. Com uma rotina agitada, ela acredita que ainda não tem a estrutura e o tempo que considera necessários para se dedicar exclusivamente a um bebê. Inicialmente, o marido dela imaginava que os dois poderiam ter seu primeiro filho em um prazo de dois anos, mas Fernanda teve que deixar o pedido dele para mais tarde, já que sua carreira como cantora exige dedicação praticamente em tempo integral. “Trabalho todos os dias em minha carreira, são ensaios e atividades administrativas durante a semana e shows e viagens de quinta-feira a domingo. Assim, precisei deixar o sonho da maternidade para mais tarde. Afinal, sou da opinião de que quem teve o filho é quem deve cuidar”. Eles já estão casados há seis anos.

Em casa, ela conta com a compreensão de seus pais e sogros. Já os demais familiares e amigos são do time que torce pela chegada do primeiro filho do casal. “Minha família cobra e a dele também. São avós, tias, primas e outras pessoas, que pedem e perguntam pelo bebê. Entendo que eles não perguntam por mal, fazem isto como uma brincadeira, de forma descontraída. Não fico chateada, mas sei que toda a brincadeira tem um fundo de verdade”. Para Fernanda, a vontade de ser mãe vem mesmo quando ela vê as amigas com os filhos no colo ou quando está com um dos seus trê,s afilhados.

Lidando com as cobranças

Para a psicóloga Maurem Carneiro, manter o respeito é a condição mais importante nestes casos em que a família pressiona o casal para ter filhos. “O casal deve impor limites na família e nos amigos, pois a decisão de ter filhos ou não é algo muito particular, que só cabe a eles”. Ela lembra que este tipo de cobrança é normal em nossa sociedade, mas isso não significa que as perguntas e intromissões precisem ser aceitas. “A pessoa começa a namorar, cobram o casamento; depois que ela se casa, devem vir os filhos. Outro pensamento que faz parte do senso comum é de que quem não tem filhos não terá amparo na velhice, o que também não corresponde à realidade de todos, afinal, nem sempre os filhos cuidam dos pais”.

Como dica para lidar com este tipo de situação, a psicóloga recomenda que o casal converse sobre o assunto e juntos, apoiados nesta decisão, enfrentem as perguntas e críticas. “Para impor limites, eles precisam deixar claro que esta decisão é só deles e que eles não se sentem confortáveis com as cobranças. Com esta postura firme, é possível diminuir os comentários que geralmente magoam um ou os dois integrantes do casal e se preparar melhor para lidar com a questão”.

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