Opção por uma vida de religião e dedicação ao próximo

A chegada do Papa Francisco ao Rio de Janeiro e o início da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que acontece a partir de segunda-feira, devem colocar a Igreja Católica de novo no centro das atenções dos noticiários por um tempo este ano. Mas, independente de a instituição estar em destaque ou não, os trabalhos realizados pela comunidade religiosa, que incluem atividades de assistência social, educação, saúde e outros, nunca para. E, por mais que a imagem da Igreja Católica ainda esteja muito associada a figuras masculinas, as mulheres também têm papel importante.

Uma delas é a irmã Regiane de Fátima Kleina, 26 anos, da Congregação das Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria. Atualmente, por estar fazendo graduação em Enfermagem, é ela quem cuida das irmãs idosas e enfermas do convento onde mora. Mas também já trabalhou em escola e casa de repouso para idosos. Aliás, em sua opinião, esta última foi uma das experiências mais gratificantes de sua vida. “Na primeira comunidade em que atuei, em uma casa de repouso em Castro, cheguei bem na semana da família e não sabia o que dizer porque aqueles idosos foram abandonados por suas famílias. Depois de começar a rezar, um deles pediu a palavra e disse que queria agradecer às irmãs, que são a família deles. Isso me deu mais forças para continuar”.

Ela conta que descobriu sua vocação muito cedo, quando ainda tinha apenas 14 anos. “Como tinha um ministro da eucaristia na família, eu costumava levar comunhão para os doentes, mas me incomodava demais quando ouvia que a óstia era Jesus. Eu queria conhecer esse Jesus. Então, um frei me convidou para conhecer um convento, este aqui onde eu moro até, e fiquei encantada com tudo que vi e vivi aqui naquele dia”, lembra. Depois de participar de alguns encontros vocacionais no mesmo local, ela recebeu um convite da madre superiora para fazer a formação de irmã, que foi aceito prontamente.

“A conversa com a minha mãe sobre isso foi difícil porque eu era muito nova. Ela até achava interessante que eu participasse dos encontros, mas não imaginava que eu ia querer sair de casa para seguir essa vocação. Quando falei que vinha, meu irmão mesmo não deu nem uma semana para a minha permanência aqui”, conta. A distância da família quase a fez desistir de sua vocação, principalmente quando seu irmão morreu em um acidente, pois sua mãe ficaria sozinha se não fosse uma outra irmã passar a morar junto com ela. “Não tive uma dúvida vocacional, mas quase desisti porque não queria deixá-la sozinha. Foi um momento de muita oração que serviu como uma resposta de Deus para a minha vocação”, afirma.

dedicação à vida religiosa. Foram dois anos como aspirante, seis meses de postulantado e dois anos de noviciado até que proferisse os primeiros votos de pobreza, castidade e obediência, que são renovados por um período de cinco a nove anos. Em 2014, ela inicia a preparação para os votos perpétuos. E irmã Regiane se diz muito segura a respeito de sua escolha. “Já questionei muito a questão da maternidade e cheguei à conclusão que posso exercê-la espiritualmente, por meio do relacionamento com outras irmãs e com a comunidade. Em relação ao casamento, eu já estive do outro lado, tive um namoradinho antes, mas não sinto falta”.

De quatro moças que iniciaram a formação com ela, somente ela permaneceu até o final, se tornando irmã de fato. “Jesus mesmo diz que muitos são chamados, mas poucos são os escolhidos. Uma delas está casada, mas outra teria condições de continuar a formação, pois passou pela mesma situação que eu quase, passei. Ela deixou a formação para cuidar da família, que estava longe, não porque teve uma dúvida vocacional”, comenta. Para a irmã Conceição Filomena Schumilo, 78 anos, sempre há uma certa precipitação. “Muitas meninas não têm paciência para esperar a crise passar”, avalia.

Para ela, a dificuldade em encontrar moças jovens que queiram se dedicar à vida religiosa também passa por uma questão cultural. “Além da falta de vivência religiosa, as famílias estão cada vez menores e, por isso, não é mais tão fácil se desprender de casa. Mas, quem sentir o chamado de Deus, deve dar atenção à sua vocação, pois ela atende a um ideal mais elevado”, opina. Assim como irmã Regiane, ela também teve exemplos na família que a inspiraram. “Minha mãe tinha primas que eram irmãs e sempre falava delas”, lembra.

Apesar de o contexto não ser tão favorável para a formação de novas irmãs, ambas têm esperança de que a JMJ deste ano desperte a atenção de mais pessoas para a vida religiosa. A própria irmã Regiane vai participar do evento e também tenta conquistar novas adeptas. “Esses dias, uma jovem da comunidade me disse que sempre quis ser irmã. Eu respondi a ela que ainda dá tempo, pois ela ainda tem só 17 anos. O próprio hábito que usamos – somos uma das únicas congregações que ainda o utiliza – chama muito a atenção. Quando alguém começa a comentar perto de mim sobre isso, fico feliz porque sei que estou incomodando de alguma forma e chamando a atenção dessas pessoas”.

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