Mulheres desvendam o futuro por meio do esoterismo

Não saber o que vai acontecer é, ao mesmo tempo, a beleza das surpresas da vida e a maior fonte de frustração do mundo. Será que aquele investimento vai dar resultado? Será que aquele homem é a pessoa certa para a minha vida? Será que vou ter sucesso na minha carreira profissional? Se soubéssemos a resposta, as coisas seriam muito mais fáceis, mas também muito mais sem graça. Mesmo assim, toda mulher sempre tem uma imensa vontade de saber mais sobre seu futuro.

Como curiosidade não mata, ao contrário do que diz o ditado popular, muita gente tenta burlar as regras da natureza e procurar as respostas através de serviços esotéricos. O direito à fé nas respostas que são dadas é embasado na legislação brasileira, que determina a liberdade nas práticas religiosas e considera crime a intolerância e o preconceito. Desta forma, no Brasil, ninguém pode achar que sua fé é maior, melhor ou mais correta que a do outro. E todo mundo pode acreditar no que quiser. As denúncias sobre intolerância religiosa, inclusive, aumentaram mais de 600% no Disque 100, de 2011 para o ano passado.

Felipe Rosa

A verdade é que tem muita religiosa fervorosa que já se rendeu a um cartomante ou a uma cigana daquelas que costumam ler as mãos das pessoas na hora, no meio da rua. A resposta pode agradar e gerar mais interesse no mundo esotérico ou desagradar muito. As orientações podem (ou não) dar certo. Sempre há uma resposta, mas só quando as coisas acontecerem na vida é que o consulente saberá se ela estava certa ou não.

Foi buscando respostas e estudando que Josianne Luise Amand se tornou terapeuta holística. Depois de perder os avós, um quando tinha dez anos e, o outro, quando tinha 15, alguns fatos mudaram sua vida. “Eles eram espíritas e eu tinha uma ligação muito forte com eles. Depois que eles morreram, eu tive um sonho com meu avô, falando da fraternidade branca. Coincidentemente, encontrei um curso sobre isso no jornal, e aí comecei a me interessar pelo assunto”, conta.

Ela entrou para a ordem Rosacruz, foi estudar Parapsicologia na Faculdade Espírita e fez meditações por quase dez anos. Chegou a um ponto que, diariamente, ela recebia um pensamento. Muitos foram publicados em um livro. Com o passar do tempo, as pessoas passaram a buscá-la procurando por respostas, assim como ela tinha feito anteriormente, quando começou a buscar esse tipo de serviço. Foi assim que também começou a fazer atendimentos.

“As pessoas nem sempre sabem o que querem quando nos procuram. Por isso, eu sempre trabalho o autoconhecimento delas. Eu acredito que todas as pessoas têm esse potencial, só precisam fazer uma escolha e ter disciplina, que o outro plano orienta. É importante saber que isso implica responsabilidade e estimula o poder. A pessoa tem que saber lidar com isso”, explica. Muito apegada à cultura indígena, Josianne tem como instrumento preferido o baralho xamânico. “É uma afinidade energética. Os xamãs são curadores”, explica.

Felipe Rosa

Búzios respondem várias perguntas

A relação com as entidades para a busca de respostas para os consulentes também é comum nos serviços prestados pelas casas de Umbanda. No terreiro da mãe Marlene, que funciona no Hauer desde 1974, entidades ciganas utilizam cristais para orientar todos que as procuram, além de também fazerem a leitura cartas. Tudo acontece pelas mãos e pela voz da mulher que se tornou a mãe Marlene.

Ela passou a fazer os atendimentos depois de ser curada de uma grave doença pela irmã, através de uma simpatia orientada por uma entidade. Como gratidão, desde ,então, ela recebe a comunidade para fazer limpeza espiritual, oferecer orientações e, com apoio das entidades, encontrar a cura para muitas pessoas que passaram pelo mesmo que ela.

Com os búzios, é diferente. A orientação vem de 16 orixás. A consulente pede a resposta que precisa, a entidade faz uma prece com búzios nas mãos e, do jeito que eles caem, os orixás contam o que está acontecendo. Os búzios podem ser jogados quantas outras vezes forem necessárias a cada pergunta que o consulente quiser fazer. “A relação dos orixás com os médiuns se dá pela vibração cósmica viva da natureza”, explica mãe Marlene.

Felipe Rosa

Ela conta que as mulheres também a procuram mais para saber de amor, principalmente com medo de traições. As orientações sempre levam em consideração que cada um tem o seu destino e isto deve ser respeitado. Nem sempre as coisas devem acontecer do jeito que as pessoas querem.

Elas também pedem muita ajuda para entender o que está acontecendo de errado no trabalho, quando os objetivos não são alcançados. Mãe Marlene também lembra que nada funciona se o consulente não tiver fé. “Se não acreditar na pergunta e na resposta, não adianta. É o mesmo que ir na igreja católica e apenas ficar olhando para o padre, sem rezar”, conta.

Pedindo uma ajudinha pros astros

É difícil encontrar uma única mulher que não conheça o próprio signo. Através da data e hora de nascimento das pessoas, é possível conhecer a posição dos corpos celestes naquele momento e saber características padronizadas de personalidade da pessoa, que, segundo os especialistas, podem indicar fatos futuros. Tem gente que não sai de casa sem ler o horóscopo, e deixa algumas atitudes para depois quando lê orientações como “não é um bom dia para os negócios”.

João Acuio estuda e trabalha com Astrologia há 20 anos. Ele começou a se interessar pelo assunto quando se impressionou ao fazer o próprio mapa astral. “Astrologia é como se fosse uma língua que traduz o mundo, os eventos, os destinos, os significados por trás das situações mais sérias ou mais banais”, descreve.

De acordo com ele, o mapa astral, também conhecido como mapa natal, é o desenho do céu a partir da data, hora e local de nascimento. Por meio dele, Acuio consegue conhecer o temperamento psicológico, os dons e a sorte da pessoa que está se consultando com ele e pode dar orientações para determinadas situações. “Acho que as mulheres procuram mais este serviço porque são mais corajosas”, afirma.

Cartas trazem informações inesperadas

Além do baralho usado por Josianne, existem vários outros, como o de Marselha, mas o mais popular ainda é o tarô. Especializado em tarô cigano, um dos tarólogos mais procurados de Curitiba é Nasser Bandeira. Ele conta que herdou o dom da avó, Cipriana Lopes Bandeira, há 42 anos, e teve que sair de casa para segui-lo, já que seus pais não aceitavam essa opção.

Ainda em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, ele passou dois meses dormindo e se alimentando em velórios, até que foi acolhido por um centro de tarô em Charqueada do Oeste. Ele ainda trabalhou por 13 anos em Porto Alegre até chegar em Curitiba, em 1992. Aqui, o público dele é 70% feminino. Segundo ele, o maior interesse das mulheres, sobre o qual elas mais perguntam, é o amor. Elas também pedem muitas orientações sobre a família, negócios e o futuro.

Em consultas que duram de 15 a 20 minutos, a pessoa apenas explica qual é o problema, e as cartas dão a resposta. “É como um exame de sangue. Às vezes, as pessoas fazem por um motivo, e acabam recebendo resposta de outra coisa. As cartas dizem como a pessoa tem que se comportar. Nem sempre a resposta é aquilo que ela queria ouvir”, conta o tarólogo.

Nos últimos dez anos, ele pe,rcebeu a destruição familiar como um fenômeno. As mulheres o procuram com depressão, passando por processos de separação ou com dificuldades para lidar com filhos agressivos. Ele embaralha as cartas, as distribui sobre a mesa e interpreta os desenhos com apoio de entidades do plano espiritual, para indicar uma “luz no fim do túnel”. “O segredo é estar em paz com suas entidades, pois elas é que mantêm o seu equilíbrio. Também é importante estar em paz com sua consciência e fazer tudo sempre procurando levar as pessoas ao caminho do bem, afastando elas de caminhos de ruínas”, confessa.

Felipe Rosa