Fibromialgia, a doença que causa dores constantes

Imagine passar meses ou até anos sentindo dores pelo corpo inteiro, tão intensas que mesmo um abraço já é suficiente para causar um grande incômodo. Essa é a realidade de muitas pessoas que sofrem de uma doença ainda pouco conhecida e difícil de diagnosticar, a fibromialgia. Como o principal sintoma é a presença dores musculares constantes, ela normalmente é confundida com outras patologias e, por isso, os pacientes ficam muito tempo sofrendo, sem ser tratados adequadamente.

Este foi o caso da professora Julia do Rocio Drewniak Surek, 48 anos. Durante anos, ela ficou pulando de médico em médico em busca de alguém que fizesse as dores sumirem. “Durante mais ou menos sete anos, passei por vários profissionais e ninguém nunca me falou sobre a fibromialgia. Somente quando comecei a pesquisar sobre a dor, é que soube que poderia haver uma relação com a doença. Li vários depoimentos e vi que as pessoas sentiam exatamente o mesmo que eu. Então, procurei um especialista”, conta.

Como as dores eram associadas a distúrbios do sono, cinco anos atrás, ela começou a fazer um tratamento com este foco. “Melhorei do sono, mas as dores continuaram. A impressão que é de que tem alguém injetando um líquido quente e ardido, que anda pelo corpo todo”, comenta. A cabeça ficava pesada e ela perdia a concentração no trabalho. “Pior era quando acordava, pois me sentia toda enrijecida, com um cansaço muito grande que me impedia até de levantar da cama”.

Allan Costa Pinto

Mesmo faltando muitas vezes, ela conseguiu se manter no emprego. Mas o relacionamento com a família também foi bastante afetado. “Meus filhos e meu marido não acreditavam que doía tanto porque não é uma coisa que aparece nos exames. Então, quando comecei o tratamento, passei a imprimir alguns textos e dar para eles lerem. Agora, com o tratamento, eles percebem que estou mais ativa, mais disposta. Antes, tinha que fazer um esforço sobrenatural para sair de casa para um almoço ou passeio”.

A médica reumatologista e diretora da Comissão Científica da Sociedade Paranaense de Reumatologia, Carolina Muller, explica que esta é uma doença que acomete mais mulheres do que homens. “A fibromialgia atinge entre 2% e 4% da população. Para cada dez pacientes do sexo feminino, há um do sexo masculino. Não se sabe exatamente qual a sua causa, mas acredita-se que fatores hormonais podem estar relacionados porque as mulheres sofrem mais, principalmente na meia idade, com 40, 50 anos”.

O que acontece com esses pacientes é uma desregulação da percepção da dor pelo cérebro. “A doença apresenta duas características principais, que é a dor generalizada, no corpo todo, e o fato de ser crônica, passando de três meses, podendo ser espontânea e/ou aparecer com o toque. A dor não está alertando o organismo de alguma coisa, a própria dor é considerada uma doença”, explica o médico reumatologista do Hospital de Clínicas e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Eduardo Paiva.

Incômodo no corpo inteiro

As dores mais fortes normalmente ocorrem acima e abaixo da cintura dos dois lados do corpo, na coluna, na cabeça e na região pélvica. O diagnóstico é apenas clínico, feito por meio de análise dos sintomas. “Não existe nenhum exame laboratorial que nos ofereça uma confirmação. Então, costumamos pedi-los apenas para afastar outras possibilidades, como hipotireoidismo, anemia e outras doenças reumatológicas, que podem apresentar os mesmos sintomas”, afirma Carolina.

“Exatamente por não haver um exame que comprove que o paciente sofre de fibromialgia, durante muito tempo acreditou-se que a dor era psicológica ou psicossomática”, completa Paiva. Segundo Carolina, a certez,a da doença vem quando o paciente sente dor em pelo menos 11 pontos de um total de 18 regiões tocadas pelo médico. A cada dois meses, o Hospital de Clínicas organiza palestras para a conscientização a respeito da doença, por meio de um grupo chamado FibroCuritiba. A próxima acontece no dia 27 de julho.

O tratamento da doença se dá por meio de uma série de atividades multidisciplinares. “Trabalhamos com uma medicação para conter as dores, mas o componente principal é a atividade física, apesar de parecer contraditório”, explica Carolina. Também podem ser utilizados remédios para combater outros sintomas, como distúrbios do sono e depressão, normalmente associados à fibromialgia devido à perda de qualidade de vida. No entanto, não há cura, apenas controle. Mas, diferente de outras doenças reumatológicas, não promove dano estrutural e não evolui para outras doenças.

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