Existe receita para manter um relacionamento duradouro?

Do namoro à moda antiga ao virtual. As relações amorosas evoluíram com o tempo e hoje os casais não são formados somente por meio da indicação de amigos ou da família, mas também com a ajuda da internet e das redes sociais. Independente de qual tenha sido o cupido de cada casal, às vésperas do Dia dos Namorados, a pergunta que não é calar é outra: existe receita para manter um relacionamento duradouro?

Se tem alguém que entende do assunto é a pedagoga Sheila Rigler (foto), proprietária da agência de namoro e casamento Par Ideal. Com 18 anos de empresa, Sheila pode dizer que uniu 3350 pessoas, ou seja, fez 1775 casamentos, o que lhe dá a condição de elaborar a receita de uma relação bem sucedida. Para ela, os principais ingredientes para a fórmula de sucesso são: ter os mesmos objetivos e gostos e sempre conversar abertamente.

“Os níveis social e cultural influenciam na relação. Quem tem gosto semelhante tem mais probabilidade de ficar junto. Pesquisadores nos Estados Unidos acompanharam casais juntos há mais de 20 anos e concluíram que os gostos eram os mesmos”, explica. Os demais passos para o sucesso da vida conjugal, segundo ela, são respeito, companheirismo, afeto, carinho. De todas as uniões que surgiram entre clientes, apenas 40 casais se divorciaram, segundo Sheila. “O casamento não deixa de ser uma sociedade a dois, por isso, é importante ver a prioridade de casa um, os objetivos de curto, médio e longo prazo”, observa.

Mulheres têm mais dificuldade?

Segundo ela, nessas quase duas décadas, o perfil do cliente mudou bastante. “No início, pessoas mais velhas nos procuravam mais. Hoje, a maior parte da clientela é formada por jovens na faixa dos 20 e 30 anos, solteiros e bem sucedidos que têm dificuldades para arranjar namorado”, conta.

A mudança se deve às mudanças na sociedade. Antes, as famílias era mais próximas e as mulheres se casavam mais cedo. Hoje, casar depois dos 30 é normal. “Com o crescimento das cidades, as pessoas perderam seus referenciais. Você sai à noite à procura de alguém, mas não sabe quem é essa pessoa. Tem gente que chega aqui e diz que cansou de sair à noite sem encontrar ninguém interessante”, diz Sheila.

Hoje, 60% do público que procura a agência é formado por mulheres. A estatística, porém, não significa que existem mais mulheres sozinhas do que homens. A empresária conta que os homens também se queixam que muitas mulheres hoje só pensam em “ficar” e não querem compromisso sério. “Parece que as coisas se inverteram. Tem homens que querem casar com 20 e poucos anos e não encontram uma companheira”.

Alguém para chamar de amor

Gerson Klaina

Uma amiga em comum foi o cupido e a paixão por pedalar, a responsável por unir a confeiteira Roberta Costa Ribas, 34 anos, e o professor universitário Alessandro Fuggiatto, 42. Antes de se encontrarem, ambos vinham de experiências amorosas desgastantes e complicadas – ela já tinha passado por relacionamentos que não deram certo, ele foi casado por 16 anos, mas se separou.

Alessandro conhecia Roberta apenas de vista, até decidir procurá-la no Facebook, quatro meses atrás. “Relutei muito porque ele me abordou de uma maneira muito insistente, direta, o que não me agrada muito. Mas um dia eu resolvi dar uma chance”, conta. Depois de conversarem mais vezes, contando seus objetivos e modo de pensar abertamente, resolveram se encontrar pessoalmente, o que aconteceu num grupo de pedal na Linha Verde.

Três dias depois, estavam namorando, ou seja, em menos de uma semana, a vida do casal mudou. A afinidade dos dois foi relâmpago. Roberta, que nunca dividiu o mesmo teto com nenhum namorado, já pensa em morar junto com o professor. “Eu nunca tinha chamado alguém de amo,r. Não deve ter sido por acaso. Eu pedalava, mas não como ele, mas retomei uma paixão de criança”.

Para eles, um casal tem mais chances de dar certo quando tem gostos parecidos e há sinceridade no relacionamento, abrindo o jogo logo de cara. “É importante conversar sobre o que se está sentido e o que queremos dessa relação, não usar máscaras e eliminar qualquer dificuldade o mais rápido possível”. Roberta não tem filhos, mas Alessandro sim. No entanto, isso já foi discutido logo no início da relação. “Eu tenho sonho de ser mãe, mas não tenho pressa, apesar da idade”.

Namorando e dançando

Felipe Rosa

Uma conspiração do destino parece ter unido Zeila Tonetti, 68 anos, e Miguel Baranowski, 83. E a diferença de 15 anos entre eles parece não fazer diferença em se tratando de vitalidade dos dois, que frequentam o baile da terceira idade do Sesc Água Verde, onde conversaram com a reportagem do TDelas ao som de Como é grande o meu amor por você, de Roberto Carlos.

O aposentado já conhecia a família dela muito tempo antes de encontrá-la e começar a namorá-la. Miguel se separou há 18 anos da mulher, enquanto Zeila ficou viúva 14 anos atrás. E foi num baile dançante que ele começou a reparar em sua futura namorada. Mas, apesar do contato visual e de algumas danças juntos, os dois só vieram a se aproximar de fato quando Miguel foi até uma serralheria no Capão da Imbuia, há três anos, atrás de um portão para reformar uma casa alugada. Lá, teve uma surpresa: Zeila era mãe do rapaz que o atendeu, dono da serralheria.

A amizade e o carinho só cresceram e, desde então, os dois não se desgrudam e tentam aproveitar a vida o máximo que podem. “Eu já fiz o que tinha que fazer. Meus filhos estão criados”, diz Zeila. Pé de valsa e nadador, Miguel ensinou Zeila a dançar e nadar. “Ele me tirou o medo da água”. Os filhos apoiaram o relacionamento, que está indo de vento em popa. Cada um continua morando em sua casa, mas os dois se encontram diariamente. “Nós viajamos bastante, principalmente para as águas termais de Piratuba, em Santa Catarina. E frequentamos muitos bailes. De dia a gente nada e de noite dança”, conta Miguel.

O primeiro Dia dos Namorados

Felipe Rosa

Foi no dia do trote da faculdade, no início do ano passado, que Marina Cavichiolo Grochocki, 18, conheceu o também estudante Jefferson de Souza Freitas, 25, seu veterano, que veio a se tornar seu primeiro namorado. Naquele dia, os dois se conversaram num bar. Dias depois, houve uma festa do curso, quando os dois “ficaram” pela primeira vez. “Mas só depois de muito tempo ele me chamou para sair”, lembra Marina.

Desde a primeira “ficada” até o rapaz a pedir em namoro, quatro meses se passaram. Jefferson lhe pediu em namoro somente em junho. “Mas foi depois do Dia dos Namorados. Por isso, este ano vai ser muito importante pra nós”, disse Marina, que promete um jantar especial no dia 12 de junho.

Ela diz que nunca fez parte da turma de garotas que idealizam o príncipe, o namorado perfeito, nunca procurou por um biotipo específico, apenas gostava de homem com cabelos cacheados, exatamente como Jefferson. “Somos parecidos em quase tudo. Gostamos até da mesma comida. E isso foi o que ajudou a nos darmos bem. Ele é muito inteligente e isso é o que eu mais aprecio”.

Quanto aos defeitos, Marina diz que já notou alguns em seu namorado. “A gente vai percebendo, mas vai se ajuntando também”, revela a jovem que se revela um tanto ciumenta. “No início, eu era bem mais, mas com o tempo aprendemos a controlar”. Casar? Bem… Marina diz que não pensa ainda sobre o assunto e garante que tem muito o que fazer da vida antes de “juntar os trapinhos”.

As liçõ,es de um casal experiente

Arquivo Pessoal

O Dia dos Namorados é sempre especial para a pedagoga e professora Sandra Maria Lourenço, 50, e o escriturário do Tribunal de Justiça, Diógenes Nunes de Souza, 51. Isso porque é o único dia do ano em que os dois elegem para ficar juntinhos. “É exclusivamente nosso. Podemos sair com a consciência tranquila”, afirma Sandra, que pretende comemorar a data no restaurante dançante onde os dois se conheceram.

Esse momento aconteceu há oito anos e as circunstâncias como aconteceu o encontro mostram que é possível, sim, encontrar um namorado na balada. “Foi num momento raro e num lugar 100% inusitado. No final do ano, saí para a festa da empresa e ele estava com o pessoal do Tribunal”, lembra Sandra.

Apesar de tanto tempo juntos, eles preferem ficar cada um em seu cantinho, para preservar a família. Os dois são divorciados. Sandra ficou casada por 12 anos e tem três filhas. Depois da separação, ficou oito anos até se envolver amorosamente. “Tentei preservar o espaço das meninas e só depois que elas cresceram é que resolvi me envolver”, conta. Diógenes ficou casado por 10 anos e tem um casal de filhos. Segundo a pedagoga, dos dois lados, os filhos receberam o namoro dos pais tranquilamente. “Faltava uma figura feminina pra ele e uma masculina pra mim”, diz.

Morar junto? Ainda vai demorar mais um pouco. “Quando nos conhecemos, eles eram adolescentes então havia muitas demandas e tínhamos que conciliar tudo. Na verdade, queremos namorar pra sempre. Mas penso um dia em viver junto, mas por enquanto, porém, preferimos preservar as relações. Quando os filhos estiverem encaminhados, não vamos resistir em ficar longe”.

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