Não se engane: mulheres também podem roncar

O ronco costuma ser motivo de constrangimento e desentendimento, principalmente para quem precisa dividir o quarto com alguém. Cutucar o marido durante o sono certamente já virou hábito para muitas mulheres. Quando chega ao extremo, esse problema leva o casal a dormir em quartos separados.

Mas o ronco também é um distúrbio que aflige (e muito) o público feminino. E, às vezes, o barulho é tão alto que pode incomodar até o vizinho. Chato, não? De quatro homens, uma mulher ronca, segundo a médica otorrinolaringologista e especialista em distúrbios do sono, Danielle Salvati de Campos Malaquias (foto), do Instituto do Sono de Curitiba.

Ela explica que esse ruído é provocado pelo estreitamento das vias respiratórias, o que dificulta a passagem de ar para os pulmões e provoca essas vibrações. O ronco discreto, o ressonar que fazemos quando dormimos de barriga pra cima, é considerado normal. Porém, ele se torna patológico se passa a ser intenso, caracterizado por grandes vibrações dos tecidos da garganta e capaz de acordar quem está do seu lado.

Segundo a médica, as causas do ronco são inúmeras, entre elas amídalas e adenoides hipertrofiadas, desvio de septo, envelhecimento, queixo retraído e até doenças alérgicas, como sinusite e rinite. Pessoas obesas, que ingerem bebida alcoólica, fumam, comem muito antes de dormir e usam remédios para conseguir adormecer têm mais chances de roncar à noite, assim como mulheres a partir da menopausa. “Devido às mudanças hormonais, ela acumula gordura e flacidez muscular, influenciando na respiração”.

Quem ronca, normalmente, não tem consciência disso e pior do que atrapalhar o sono do companheiro é prejudicar a própria saúde e o rendimento no trabalho. “Pessoas que não dormem bem têm o sono fragmentado, tendência a engordar e o metabolismo se altera”, diz a especialista.

Uma dona de casa, de 59 anos, que prefere não se identificar, é prova disso. Ela já passou pela menopausa há cerca de dez anos, mas sofre com o ronco há pouco tempo e somente soube por outras pessoas. “Ronco quando durmo de barriga pra cima. Mas eu só sei que ronco pelos outros. Quem está do meu lado é que diz que eu ronco”, diz a dona de casa, que ainda não procurou o médico. Apesar disso, ela admite que isso interfere na sua vida. “Atrapalha bastante. Tanto a vida de quem ronca quanto a de quem está perto”, afirma.

Mais sério do que parece

Segundo Danielle, antes de ser um constrangimento, o ronco pode estar associado a uma situação grave: pode ser um sintoma de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), quando ocorre uma parada respiratória de no mínimo dez segundos provocada pelo fechamento da faringe. A apneia aumenta o risco de hipertensão arterial, arritmia, infarto e derrames cerebrais por causa dessa interrupção da respiração, que diminui o oxigênio no sangue e faz o coração trabalhar mais.

A obesidade é um dos principais fatores de risco da SAOS, porque a gordura fecha o canal da faringe. “Quando existe excesso de gordura, é como se engordássemos por dentro também, dificultando a passagem de ar”. Por isso, é importante consultar um médico que, após fazer o diagnóstico pelo exame chamado polissonografia ou exame do sono, identifica o melhor tratamento.

“A partir desse exame, em que o paciente é monitorado com vários eletrodos, faixas torácicas e abdominais, será possível observar se ele atinge todos os estágios do sono e se sofre de apneia”, explica. Outro exame é o nasofibrolaringoscopia: uma câmera penetra na cavidade nasal e mostra onde esta a obstrução. Dependendo do resultado, há vários tipos de tratamento. Para os quadros mais leves, é possível controlar o problema mudando a posição de dormir. Para os casos mais graves, é indicado o CPAP nasal, que é uma máscara que joga ar para as vias áreas e também evita problemas cardiovasculares, e hipertensão. O paciente leva para casa e dorme com ele.

Tratamento odontológico também pode ajudar

Dentistas também podem indicar o uso de um aparelho intraoral, que posiciona a mandíbula para frente e desobstrui a passagem do ar, evitando a emissão de ruídos. “Em primeiro lugar, o dentista precisa avaliar as condições para a colocação do aparelho, a necessidade da realização de exames complementares e a condição dentária, analisando possíveis problemas que precisem ser tratados antes da confecção do aparelho”, explica a dentista Marileide Reichenbach Arrais.

Mas Danielle afirma que nem sempre o aparelho resolve. “De repente, esse aparelho serve para quem tem posicionamento errado da mandíbula, o queixo para trás”. Em último caso, existem cirurgias. Segundo Danielle, convênios cobrem a maioria dos exames. Pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) podem se consultar num ambulatório no Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul.

Ainda que o ronco só atrapalhe e não seja sintoma de nada mais grave, esse ruído pode contribuir para a perda da audição, tanto em quem sofre desse distúrbio quanto em quem está dormindo do lado. “Acima de 85 decibéis, o ronco pode causar surdez. É como se você estivesse dormindo ao lado de um equipamento barulhento”, exemplifica a médica.

Voltar ao topo