Sono desregulado e irritabilidade: estresse

Sono desregulado, irritabilidade e ansiedade são sinônimos de que alguma coisa não está indo bem na sua rotina: é o estresse tomando conta da sua vida e prejudicando a produtividade no trabalho. Uma pesquisa feita pela International Stress Management Association (Isma) aponta que os brasileiros só perdem para os japoneses em se tratando de estresse. E os vários papéis assumidos pelas mulheres fazem com que elas sofram mais desse mal do que os homens, como constatou a professora da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e doutora em Psicologia Social, Maria Sara de Lima Dias.

Ela estudou um grupo de cem pessoas, metade homens e metade mulheres. Todos trabalhavam, à época da pesquisa, no período noturno de uma empresa. Advinha quem mostrou maior propensão ao estresse? As mulheres, claro! Tomar conta dos filhos, do marido, do trabalho é um fardo muito grande para carregar. “E quando se trabalha à noite, a rotina muda completamente. O sono não é mais o mesmo”, conta a professora.

Apesar de o homem se mostrar cada vez mais atuante nos afazeres domésticos, a mulher ainda tem aquele elo com o filho, difícil de quebrar. Por isso, ela sofre mais, não consegue se desligar. “A mulher se sente na obrigação de passar as orientações e diretrizes em casa. Ela quer ser a mulher maravilha e acaba se cobrando demais. Quer ser a mãe exemplar, a mulher perfeita, ter o corpo lindo e isso tudo acarreta numa sobrecarga muito grande”, afirma a psicóloga e professora da UniBrasil, Joyce Baratto.

O estresse propriamente não é considerado uma doença. É uma resposta do organismo quando ele é submetido a esforço e tensão, um alerta que o corpo emite. Mas, se mal administrado, desencadeia doenças psicossomáticas, como a depressão. A síndrome de burnout também é consequência do estresse crônico, o que aconteceu com a psicóloga Sandra Cristine Mosello, 44. Sandra tem duas filhas, hoje adolescentes, e sempre foi uma mãe muito presente. Casada com um italiano, ela morou 10 anos em Roma.

Marco Andre Lima
Sandra foi vítima do distúrbio.

Quando voltou ao Brasil, sete anos atrás, se deu conta que as crianças estavam crescidas e decidiu fazer o curso de Psicologia. Ela, porém, se viu no meio de muitas tarefas a que não estava acostumada e não conseguia se desligar. Resultado: Sandra passou a ter taquicardia, dores de cabeça, tontura, e foi parar no hospital três vezes. “Em todas elas o diagnóstico foi estresse”, recorda.

Sandra costuma usar um exemplo para lidar com esse mal: “É como comprar uma calça. Se você diz ‘tenho que entrar nessa calça’, você vai se estressar para entrar nela, enquanto, na verdade, deveria reconhecer que esse não é o modelo certo”. Joyce diz que é importante sabermos quais fatores desencadearam essa situação, afinal, o que é estressante para um, não necessariamente pode ser para o outro.

Interferência direta no trabalho

Com tantas metas para cumprir no emprego, nos tornamos uma “bomba relógio”. “É como se levássemos vários sustos. O corpo fica 24 horas em alerta, não relaxa”, diz Joyce. No início da crise, não damos atenção aos sintomas e deixamos que eles se acumulem com o tempo. O estresse causa taquicardia, problemas de pele, boca seca, falta de apetite, dores nas costas e na cabeça. No trabalho, a pessoa começa a chegar atrasada, não cumpre todas as tarefas, reduz sua produtividade, tem dificuldade de concentração e lapsos de memória.

A pressão é tanta que também provoca desequilíbrios emocionais. Por isso, é comum que a pessoa estressada chore bastante, para dar vazão. “O corpo vai dando sinal, mas normalmente as pessoas não ligam. Quando percebem, já estão na exaust,ão”. Saber lidar com as situações e os problemas do dia a dia, seja em casa ou no trabalho, nos ajuda a manter distância do estresse. Mas quem consegue evitar de “levar pra casa” uma bronca do chefe, ou quem nunca levou para o emprego uma briga com o marido?

O cenário nas empresas também não colabora e deixa os profissionais mais propensos ao estresse. “Hoje a concorrência é acirrada. O medo de ser demitido, de não cumprir metas, diferença de salário entre os sexos, são alguns dos fatores estressores”, lembra Joyce. Segundo a professora, muitos afastamentos no trabalho hoje são ocasionados pelo alto índice de estresse. “Isso causa tanto prejuízo para a empresa quanto para o funcionário. Ele se vê com autoestima baixa, um peixe fora d”água”.

O cenário, no entanto, poderia ser outro, se houvesse um feedback das empresas. “As empresas devem procurar investir na qualidade de vida e saúde de seus funcionários. Empresas que têm programas de prevenção ao estresse têm mais produtividade”. Segundo ela, profissionais que lidam com pessoas são mais propensas ao estresse, como jornalistas, policiais e médicos. “Com um produto, você pode mandá-lo de volta para a fábrica, com pessoas, você não pode errar”.

Para prevenir o estresse, só mesmo dando um tempo pra cabeça e para o corpo. “Praticar exercícios e dormir bem são fundamentais. O lazer estabiliza os neurotransmissores, como a adrenalina, que nos deixam mais agitados. E libera outros ligados ao prazer, como a endorfina. Então, o organismo entra em equilíbrio”, diz. Se nada disso der certo, talvez seja melhor tomar uma medida mais radical. “Às vezes, o melhor é pedir demissão”, indica Joyce.

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