Carrasco do Hepta

Grêmio de Maringá acabou com o sonho do hepta do Coritiba

O primeiro golpe aconteceu na tarde de 25 de setembro de 1977 no estádio de Maringá que à época passou a se chamar Jayme Canet Júnior, embora todo mundo ainda o chamasse de Willie Davids. Era a primeira partida da final do Paranaense entre o Grêmio de Maringá, que veio da repescagem para um quadrangular com os três times da Capital – Coritiba, Atlético e Colorado. Não deixava de ser uma surpresa, embora um time da repescagem tivesse vaga garantida na etapa final. A temporada que começou no dia 27 de março estava chegando ao fim. No quadrangular o Grêmio levou o primeiro turno e o Coritiba ficou com o segundo. Os dois iam decidir o título. O primeiro jogo seria em Maringá, o segundo em Curitiba. Se fosse necessário o terceiro seria em Londrina.

O Grêmio surpreendia, mas ainda era uma incógnita, principalmente diante de um Coritiba hexacampeão. O Coxa igualou feito histórico do Britânia Sport Clube nos longínquos anos 20 – de 1918 a 1923 e procurava bater um recorde: sete títulos consecutivos. Para o jogo em Maringá, o técnico Diede Lameiro estava confiante e o supervisor Hélio Alves mais ainda: “Temos time para vencer lá em Maringá e aqui em Curitiba”. Era verdade. Mas decisão é decisão. O Grêmio saiu da repescagem com time reforçado por meia cancha de respeito: Didi, Ferreirinha e Nivaldo. Para o ataque contratou centroavante rompedor: Itamar Bellasalmas que jogou no Palmeiras ao lado de Luís Pereira, Leivinha e Ademir da Guia. A partida seria apitada pelo juiz José Faville Neto.

O primeiro jogo da decisão poderia ter outra história não fosse um lance acontecido aos 39 minutos do primeiro tempo. Zé Carlos cruzou da esquerda para a área e o goleiro Wagner, do Grêmio, saiu mal e deu rebote. O atacante Washington foi para a bola e para evitar o gol, o goleiro Wagner derrubou o atacante e fez pênalti. Aos 40 minutos Aladim foi para a cobrança e chutou para fora. Ele disse ao final do primeiro tempo: “Eu quis chutar muito forte no canto e tiver azar”. O técnico Wilson Francisco Alves, o Capão, ex-jogador de Vasco e Santos, manteve o time na defensiva se arriscando pouco no ataque onde Itamar ficava quase isolado. Aos 29 minutos do segundo tempo, João Marques pegou a bola e passou para Freitas, que cruzou para Itamar de cabeça mandar para o fundo das redes. No dia seguinte a Tribuna escancarava: “Cabeça de Itamar liquida Coritiba no primeiro jogo”. O Grêmio precisava de empate na capital.

Na finalíssima, um gol salvador

No segundo jogo estava mais para o Coritiba tirar vantagem alvinegra e forçar a terceira partida em Londrina do que qualquer outra coisa. Além de o Coxa jogar em casa, o Grêmio entrou em campo sem duas peças fundamentais de seu meio campo: Didi e Ferreirinha. O Coritiba parecia que ia liquidar a fatura sem esforço. Aos 11 minutos do primeiro tempo, Wilton cobrou escanteio, Vicente escorou e a bola quase entrou. Wagner deu rebote e Washington abriu o placar. O primeiro chute a gol do time do interior aconteceu aos 35 minutos. Itamar mandou uma pancada e Sérgio defendeu. Um minuto depois o lateral Hermes cometeu falta fora da área.

A barreira não foi bem formada e na área os zagueiros atrapalharam a visão do goleiro alviverde. Itamar viu tudo isto, foi para a cobrança e mandou uma pancada. “Nós passamos o tempo todo gritando para que os zagueiros saíssem”, disse Aladim. Os zagueiros não saíram e a bola entrou. O jogo estava empatado. E se continuasse assim, o título da temporada estava definido. No segundo tempo o Grêmio veio para segurar o resultado e o Coritiba foi todo para o ataque e acabou consagrando o goleiro Wagner, considerado o herói da final: ele fez defesas sensacionais, catimbou e teve personalidade.

Quando o juiz Luiz Carlos Félix apitou o fim da partida, o Grêmio era campeão pela terceira vez. A segunda conquista na capital do estado. “Ninguém acreditava”, disse Itamar. Não era mais um simples título se o Coxa ganhasse. Seria o hepta inédito. Nunca um time havia conquistado. E, ,talvez, nunca outro o conquistará. O atacante tirou o hepta da boca do Coritiba em pleno Alto da Glória.

“Pelo significado que teve, por serem dois gols decisivos no título, e até por serem gols do último título que o Grêmio conquistou, eu considero estes dois os mais importantes gols de minha carreira”, disse Itamar. E o centroavante que foi contratado quando o campeonato estava em sua fase final, ainda teve tempo para ser artilheiro da temporada com 15 gols. Não foi pouca coisa.