Pra lá não volta mais

Para ir ao Atlético, Nilson deixou a Portuguesa e foi pra Europa

Nilson Borges começou a sair da Portuguesa no começo de 1965, no dia em que apareceu um empresário português chamado Luís Campos, dono de restaurante em Lisboa. Ele garantiu que ia vendê-lo para um time da Bélgica. O acordo era o empresário ficar com 20 milhões, o jogador com 20 milhões e a Portuguesa com a parte dela. Mas, como acontece no futebol com frequência, o empresário era um pilantra. “Eu fiquei três meses na Bélgica jogando amistosos pelo Standard Liége, porque não fui registrado. Não podia jogar partidas oficiais porque não assinei contrato. Fiquei sabendo que o clube queria me comprar, mas o empresário pedia sempre alto. No final, eles não acertaram”, conta Nilson Borges. O português então levou o ponta-esquerda para Portugal e tentou colocá-lo no Sporting de Lisboa.

“Fiquei treinado e jogando amistosos. Mais uns quatro ou cinco. Lembro-me de um que fizemos para levantar dinheiro para o massagista. Encheu o estádio. Fizemos a vida dele. O Sporting se interessou, mas o negócio também não saiu. Fiquei sabendo a causa: o português queria lucrar alto. Pediu 120 milhões. Quando o negócio estava quase para sair, ele me perguntou se não podia parcelar a minha parte. Dava a metade no ato e metade um ano depois. Percebi que era golpe, que ele não ia me pagar a segunda parte e caí fora. O Sporting também caiu fora. O empresário disse que ia me levar para o Porto, que eles estavam interessados, porque leram reportagens nos jornais de Lisboa sobre mim. Eu achei que aquilo era conversa e decidi fugir. Eu tinha um pouco de dinheiro, emprestei um pouco do Alberto e do Pelezinho, amigos do Belenenses que jogaram comigo no Brasil, e fugi. Fugi para o Brasil e disse: aqui não volto mais’, lembra.

Quando ele chegou ao Brasil, uma surpresa: não conseguia treinar na Portuguesa. A direção do time alegou que ele tinha que reembolsar um adiantamento feito para ele viajar para a Europa. Na conta do jogador não havia dívida. Estava tudo certo. Na realidade o clube não gostou de ele ter fugido de Portugal. Por causa disto, ele não jogava na Portuguesa. “O Rubens Minelli estava treinando o América de São José do Rio Preto e assim eu fui emprestado para o final do campeonato de 1965. E em 1966, quando era para eu voltar para a Portuguesa, estava para ter eleição. A Portuguesa negociou o Ditão e o Nair com o Corinthians. A oposição ganhou e ficou uma fera com o negócio”, afirma. Mas a ida de jogadores da Portuguesa para o Corinthians facilitou a saída do atacante do Canindé e também a sua ida para o Parque São Jorge.

“Como Nair foi para o Corinthians e era meu amigo, ele disse para o Osvaldo Brandão que eu queria sair da Portuguesa. O Brandão pediu a minha contratação. Ele disse para o Nair, estou cansado de este cara fazer gol contra o meu time. Está na hora de ele fazer gol para o meu time. Ele me contratou, fomos fazer pré-temporada em Águas de Lindoia. Mas o Brandão ficou dois meses no clube, brigou e caiu fora. O Corinthians contratou o Filpo Nunes que não tinha pulso. Jogar no Corinthians naquele tempo era complicado. A pressão era grande, técnico e jogadores não resistiam. E assim ele começou a mexer demais no time e eu não fiquei”, conta ele.

Nilson Borges fez apenas seis partidas com a camisa alvinegra: quatro vitórias, um empate e uma derrota. Fez dois gols. E, em 1967, foi emprestado para o Juventus de São Paulo. “Eu fiz uma temporada no Juventus e na hora de voltar para o Corinthians, no começo de 1968, apareceu o pessoal do Atlético e me trouxe para Curitiba”, resume o final da verdadeira maratona que começou no dia em que ele saiu do Brasil para jogar na Europa e algum tempo depois foi parar no estádio Joaquim Américo, em Curitiba.

Voltar ao topo