Tirando leite de pedra

Estudante do Paraná é destaque em olimpíada de astronomia

Observar o céu nunca foi o bastante para o estudante João Paulo Krug Paiva. Entrou para o clube de astronomia da escola ainda na 7.ª série, antes mesmo de ter aulas de Física. O hobby o levou longe: até a Indonésia. Aos 16 anos, ele foi o brasileiro mais bem colocado na 15.ª Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA), realizada entre julho e agosto deste ano.

João enfrentou 317 competidores de 41 países. Ficou em 81.º lugar no quadro geral e em 8.º entre os que receberam “menção honrosa”, dada a alunos que tiram entre 50 e 65 (de um total de 100 pontos). Além dele, outros três colegas da equipe brasileira conquistaram a menção.

No topo da tabela, só competidores do “lado de lá” do mundo. Indonésia, Irã, Tailândia, Índia e Cingapura dominam. Bulgária e Rússia dão um leve toque ocidental à lista das 12 medalhas de ouro da edição deste ano, entregue para estudantes com no mínimo 90% de acerto.

Rede apoio para compensar deficiência no currículo

O que separa esses estudantes dos brasileiros é um período de dois a três anos. Não de idade – a competição é só para quem está na etapa escolar equivalente ao nosso ensino médio – , mas de preparação. É o tempo que um aluno destes países “ouro” se dedica, noite e dia, aos estudos da astronomia e da astrofísica.

Mas a ausência da astronomia no currículo escolar não assustou os brasileiros, muito menos os impediu de se dedicar a cálculos matemáticos que deixariam muito estudante de engenharia tremendo nas bases. No mês que antecedeu a etapa internacional, João estudou 20 horas diárias. “Pensei até em desistir”, confessa. Era o medo dos esforços serem em vão. “Você tem que abrir mão de muita coisa para estudar. Mas sabe que não tem como competir com os indianos, por exemplo”.

Os estudos foram um misto de rede de apoio e autodidatismo. Os coordenadores da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) cedem materiais, entre eles um livro contendo todas as questões já feitas nas edições anteriores da olimpíada internacional.

Os 15 integrantes da equipe brasileira fizeram duas viagens guiadas para observação celeste. A primeira, ao Observatório Abrahão de Moraes (OAM), em Valinhos (São Paulo). A segunda, para o Observatório do Pico dos Dias (OPD), em Brazópolis (Minas Gerais).

“Sócio” do planetário

Em Curitiba, tornou-se frequentador assíduo do planetário do Colégio Estadual do Paraná (CEP). “Ele já chegou aqui tendo em mente todas as constelações e estrelas”, conta o professor Ademir Pereira, astrônomo do CEP. Leitura de planetário é uma das categorias de prova da IOAA.

Para o manuseio de telescópios, o rapaz contou com a ajuda do fabricante Sandro Coletti. Amigo de Eugênio Reis – coordenador da equipe brasileira, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação –, Coletti ensinou ao estudante a diferença entre um aparelho do tipo Azimuth e um equatorial. Basicamente, o primeiro leva em conta um ponto fixo (o Norte geográfico) e a altura em relação à Terra, enquanto o segundo simula no céu o que seriam as linhas geográficas do Equador e deGreenwich.

Na mira, o MIT – Massachusetts Institute of Technology

Como próximos passos, João quer criar asas e voar. Não para outra galáxia, mas para os Estados Unidos, onde planeja estudar Física na Universidade de Harvard ou no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Além da medalhe de honra ao mérito em astronomia, ele aposta em seus seis anos como dançarino (sendo quatro como coreógrafo) para garantir a vaga. Isto porque as instituições norte-americanas levam em conta as atividades extrac,urriculares do aluno na hora de aceitá-lo e de fornecer bolsas.

Dança, aliás, deve ser o seu “minor”, o diploma secundário que os alunos precisam tirar para se formar nos Estados Unidos. E é com isso – e não com a Astronomia – que ele pretende trabalhar quando formado. Mas, até lá, “muitas águas vão rolar”. Por hora, João está mais focado em recuperar os dois meses em que ficou longe dos bancos da escola, entre estudos e viagens.

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