O domínio do motor dois tempos

Foi num dia 29 de março, aniversário de Curitiba, início de 1970, que o público curitibano aficcionado das corridas de motocicletas, incluindo este jornalista, viu pela primeira vez o que era uma máquina de competição japonesa, motor ciclo dois tempos e, ficou de boca aberta.

Até então, as máquinas que dominavam o cenário mundial motociclístico de competição eram as de ciclo quatro tempos, inglesas e italianas, sobretudo a MV Agusta, com o célebre Giácomo Agostini, “trocentas” vezes campeão mundial.

A entrada dos japoneses em cena foi um divisor de águas, antes e depois deles, principalmente com as Yamaha motor dois tempos, fazendo com que as fábricas de motocicletas de outros países fossem à bancarrota quase todas, situação que perdura até hoje, num mercado dominado por Honda, Suzuki, Kawasaki, etc.

No dia do aniversário de Curitiba a Prefeitura Municipal (bons tempos aqueles) costumava promover corrida de motocicletas no Autódromo de Pinhais trazendo os melhores pilotos e motocicletas do país.

E foi então naquela data que vieram nomes como Walter “Tucano” Barchi (depois várias vezes campeão brasileiro com Yamaha), Carlos Pavan – o “Jacaré”, depois morto num acidente de rua em São Paulo , entre outros pilotos de ponta.

O ex-piloto de competição paulista Edgar Soares, então com uma das primeiras revendas Yamaha em São Paulo /SP, trouxe duas Yamaha TD2, motor 250cc, dois cilindros paralelos, dois tempos, de competição, pilotadas pelos célebres irmãos Paolo e Gualtiero Tognocchi.

Essas máquinas estavam entrando no campeonato mundial e já dominavam o cenário. Foi o fim da picada. As máquinas que dominavam as competições no Brasil eram as italianas Ducatti – motor ciclo quatro tempos – e a maioria das participantes da corrida desse dia eram desta marca, incluindo a do curitibano posteriormente campeão brasileiro – Ubiratan Rios, o conhecido “Bira” que correu com uma Ducatti “Diana” de 250cc.

Quando as Yamaha entraram na pista, com os seus motores dois tempos berrando feito loucos a 7, 8, 10 mil giros, a mais de 200 quilometros por hora, o público não acreditou. De qualquer ponto da pista o ronco agudo dos motores podia ser ouvido claramente.

Não houve chance para mais ninguém. Aquilo sim era uma moto de competição. Dali para a frente, tanto no Brasil quanto no mundo todo, só deu máquina japonesa.

Depois da TD2 de 250cc a Yamaha lançou a TZ de 350cc, dois cilindros, de competição, máquina de tecnologia super-avançada, dando o golpe final nas demais marcas de motocicletas que ainda resistiam, aniquilando inclusive a MV Agusta.

Até o Giácomo Agostini passou a correr de Yamaha! No Brasil, os motores dois tempos provaram ser bons em competição desde as Jawa (motor CZ), as Lambrettas, Excelsior, Rumi, etc. Nas fotos de hoje, Ubiratan Rios com sua Yamaha TZ 350cc (quase 300 km/hora) numa curva do Autódromo de Interlagos/SP e o hepta-campeão paranaense Danilo Júlio Afornali com Lambretta carenada preparada pelos irmãos Tognocchi (150 km/hora) em São José dos Pinhais/PR, ao lado do mecânico Juarez Bittencourt.